quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Esperanca

Como diz o ditado budista: "Se vivemos de esperancas, vivemos de movimentos da alma". A palavra esperanca vem do radical ‘spe’ e significa ‘vastidao desdobrada’. O radicao em si (spe) vem do latim e siginifica desdobrar, crescer. Eh o mesmo radical que origina as palavras ‘prospero’ e ‘espaco’. Esperar eh um ato em movimento, nao estacionado, portanto, ocupa um espaco. Esperar eh ansiar por coisas boas, por aquilo que vem a florescer no futuro.
Ja perceberam que em quase todos os idiomas, a palavra ‘esperanca’ tambem eh usada como nome proprio? Em espanhol temos a senora Esperanza, em italiano a signora Speranza, do ingles a Ms. Hope, do hindi Aasha, da Franca tem-se a famosa Elizabeth d’Esperance e ate no Brasil, com a Nossa Senhora da Esperanca. Tentamos carregar a esperanca sempre conosco, nao importa se em nomes proprios, em situacoes, em momentos de duvida. A esperanca eh o que mantem os sonhos vivos, o futuro melhor, a possibilidade de ser ter as questoes respondidas e os problemas resolvidos. Esperanca, aliada ao tempo, cura magoas, doencas, saudades... e nos faz acreditar que tudo pode dar certo.
Creio que a esperanca eh a minha ferramenta principal de sobrevivencia. Sem ela, eu nao teria vindo para a India sozinha, nao teria vivido aqui por dois anos, nao teria aprendido tudo o que aprendi, visitado todos os lugares que visitei, feito as amizades que tenho. Na minha busca por coisas boas, foi mais do que coragem que me trouxe aqui. Foi esperanca. E continuo a esperar por mais coisas boas...

domingo, 15 de novembro de 2009

Uma nação totalmente dominada

Há dois meses tive a oportunidade de viajar pelo sul da Índia. Aproveitei para conhecer algumas cidades e, especialmente, o litoral. Em minha jornada para a praia, hospedei-me por um dia num hotel em Mahabalipuram. Apesar da cidade ser conhecida pelos vários templos históricos e por ter sido uma das regiões atingidas pelo Tsunami em 2004, o que mais me chamou atenção foi um simples forro de mesa que se encontrava no restaurante do hotel. Ele continha um texto escrito por Lord Marcualays em 1835 (foto acima), durante o domínio inglês sobre a Índia, nas seguintes palavras:
“ Eu tenho viajado por todo o território da Índia e não vi sequer uma pessoa que seja mendigo ou ladrão. Tanta riqueza eu tenho visto neste país, tais como os valores morais, pessoas de tal calibre que eu não creio que nos possamos conquistar este país, não ser que quebremos a ‘espinha dorsal’ desta nação, que é sua heranca espiritual e cultural. Portanto, eu proponho que nós mudemos esse antigo sistema educacional, a sua cultura, pois se os indianos pensarem que o que é estrangeiro e ingles é bom e melhor que o deles, eles perderão sua auto-estima, sua cultura nativa, e se tornarão o que queremos deles, uma nação totalmente dominada”. (Carta de Lord Macualays ao Parlamento Britanico – 02/02/1835)*.
Fiquei imaginando o tamanho mal que os ingleses trouxeram para a Índia e como o método de dominação europeu é maldoso e desumano com as civilizações dominadas. Temos como maior exemplo as tribos indígenas americanas que foram massacradas e extintas por espanhóis e portugueses durante séculos na conquista do território centro-sul do continente. Idiomas e culturas que nunca chegaremos a conhecer desapareceram junto a milhares de pequenas tribos ao longo da América do Sul e Central. Civilizações importantes como os Maias e Incas foram praticamente extintas, restando a nós somente eleger as ruínas das cidades restantes como ‘Maravilhas do Mundo Moderno’. O mesmo ocorreu na Austrália, onde os aborígenes foram massacrados e também quase extintos para que a sociedade inglesa se estabelecesse no local. Na Índia, eles não conseguiram exterminar a população e utilizaram a força do convencimento para ganhar a ‘batalha’. E o que hoje vemos na Índia não é uma Índia original, cheia de culturas e costumes antigos, mas uma Índia mesclada, onde se pode observar pessoas adorando árvores no meio de uma avenida cheia de carros de marcas europeias dirigidos por jovens em mini-saias e tops. Vemos um noivo em trajes típicos montado num cavalo branco em direção ao local do casamento acompanhado por convidados vestindo calças jeans e camiseta polo, cantando “YMCA”. Vemos milhares de mendigos e pedintes na rua e culpamos o governo pela falta de investimento com a população. Vemos sujeira para todos os lados e culpamos os indianos pela falta de educação… Para tudo! Se em 1835, a Índia era um país fértil, rico, limpo e organizado, por que hoje sofremos tanto com a sujeira, a pobreza e a poluição neste país? Será que isso é uma tradição milenar Indiana? Será que eles sempre viveram assim?
Depois do texto de forro-de-mesa que li no restaurante em Mahabalipuram, comecei a estudar mais sobre a história da Índia antes do domínio inglês. E o que se descobre é que a Índia de hoje é exatamente o que os ingleses esperavam obter: uma população extremamente dominada a ponto de largar todas as suas origens, todo o seu caráter, todo o seu orgulho de ser indiano para se transformar numa população mesquinha, ambiciosa, que não se preocupa com o cidadão do lado. Uma população onde os ingleses podem chegar, fazer a festa e deixar a sujeira para os indianos limparem. Mas o que os ingleses não ensinaram aos indianos foi como limpar a sujeira… afinal, ensinar para que, já que a Índia não é mais sua colônia? Agora a Índia é um país independente e tem que aprender a se virar sozinha… sem riquezas, sem normas, sem origens, sem ajuda… e a Índia segue seu caminho, passo a passo bem devagar para restaurar aquilo que os ingleses tiraram dela… isso é Incredible India!

*Texto original em inglês: “I have travelled across the length and breadth of India and I have not seen one person who is beggar, who is a thief. Such wealth I have seen in this country, such moral values, people of such caliber, that I do not think we would ever conquer this country, unless we break the very backbone of this nation, which is her spiritual and cultural heritage and therefore, I propose that we replace her old and ancient education system, her culture, for if the Indians think that all that is foreign and English is good and greater than their own, they will lose their self-esteem, their native culture and they will become what we want them, a truly dominated nation”.
(Lord Macualays address to the British Parliament – 02/02/1835).


domingo, 8 de novembro de 2009

Paz e amor


Índia não é cultura, é muita cultura! Quanta coisa não deve ter sido influenciada pela cultura indiana e/ou hinduismo no passado e nem sabemos. Como já mencionei num post anterior, Hitler foi fortemente influenciado pela cultura indiana na luta por sua “causa”, durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns historiadores acreditam que o Cristianismo também teve forte embasamento nas escrituras hinduístas. A santíssima trindade pode ter nascido com base na Trindade hindu: Brahma, Vishnu e Shiva (Pai, Filho e Espírito Santo). Outros mais polêmicos descrevem que a vida de Cristo e a de Krishna apresentam tantos fatos semelhantes que chega-se a duvidar se o Jesus da Bíblia realmente existiu ou se é uma versão ocidentalizada da vida de Krishna...
Mas a influência mais recente da cultura indiana (desconsiderando a atual “moda pop-indiana” pós-novela das 8) pode ser vista no movimento hippie, que teve seu momento-chave nas décadas de 60 e 70. Muitos dos participantes do movimento da época eram soldados vindos da Guerra do Vietnã que tiveram contato com a cultura asiática. Os hippies eram contra guerras, desigualdades sociais, materialismo, etc etc etc. Assim, esses soldados trouxeram ao movimento hippie parte da filosofia hindu e budista, como o desapego aos bens materiais, a meditação, o uso de incenso para purificação do ambiente, e principalmente no vestuário, nas saias longas, camisas tingidas e calças boca-de-sino. Quem sabe a liberadade sexual também não sofreu influência do Kamasutra..? A Mandala, figura circular com 3 intervalos iguais, era o principal símbolo do movimento Hippie, tambem trazido dos indianos.
Apesar da Índia continuar sendo um país com culturas e tradições altamente exóticas para nossos olhos, não podemos negar que sempre carregaremos conosco um pouquinho de seus costumes... um pedaco da história ocidental estará sempre ligado às origens e ensinamentos asiáticos.
O que para eles é tradição milenar, para nós sempre será a moda da estação... infelizmente...


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Felicidade


Há alguns dias atrás, li um texto na internet comentando sobre um livro escrito pela psicologa Sonja Lyubomirsky. O nome do livro é “The how of happiness” e descreve passos para alcançar a tão sonhada felicidade; mas lógico, tudo sob o ponto de vista da psicologia e após anos e anos de estudos dedicados a este assunto. Pois bem, o livro me chamou atenção e resolvi comprá-lo. Li-o todo em uma semana. Sempre tive atração pelo comportamento humano, apesar de minhas escolhas profissionais terem me levado para outro lado da ciência. Mas nunca perdi minha curiosidade em desvendar os mistérios do pensamento humano. O livro é simples e objetivo; nada de auto-estima, é pura ciência. E o mais importante, a escritora coloca no livro muito do que nós já sabemos, mas insistimos em esquecer o tempo todo: “A felicidade só depende da gente”. Isso mesmo, só depende de mim para eu ser feliz e ninguém mais. E, de acordo com Sonja, o primeiro passo para ser feliz não é difícil, mas acredito que, para a maioria das pessoas, deve ser um processo muito doloroso de se conquistar: “...ser responsável pelas próprias ações e as conseqüências que elas trazem em nossas vidas...”
Realmente, se responsabilizar pelos próprios insucessos profissionais, amorosos, financeiros ou qualquer que seja, é uma tarefa complicada para quase todos nos. Quase todos...
Mas o que psicologia, felicidade e aceitação dos erros tem a ver com a Índia? Tem muito a ver.
Veja bem. Cresci num país onde a população está mais do que acostumada em culpar o governo pela falta de recursos, a polícia pela criminalidade, a televisão pela falta de respeito dos filhos em relação aos pais, a corrupção dos outros pela nossa falta de dinheiro, o colega de trabalho oportunista pela nossa promoção adiada, Deus pela falta de fé, o fast-food pelo nosso excesso de peso, etc etc etc. Não conheço um brasileiro que não tenha algo a reclamar, até eu mesma o faço. E assim continuamos vivendo insatisfeitos, problemáticos, ambiociosos... Respeitamos as leis dos países alheios, mas preferimos criticar nossos métodos a modificá-los. E quando vemos os mesmos erros em outros países então... encontramos a fonte de ataque para nosso descontentamento. Esclareco logo que esse comentário é generalizado. Para toda regra, existem exceções.
Mas o que vejo aqui na Índia é que, apesar da pobreza, da corrupção, da falta de higiene, da poeira e tudo o mais de ruim que aqui possa ter, as pessoas são felizes. Ou pelo menos, demonstram ser. Se chove, todos festejam a chuva bem-vinda que veio lavar o ceu. Se faz sol, eles tambem festejam. Eles sabem que o país nao é o melhor do mundo, estão atentos à corrupção dos políticos, à pobreza, mas não fazem disso motivo para viverem uma vida cheia de problemas e frustrações. Claro que, você também não vai ver indianos cara-pintada saindo as ruas em protesto contra o governo, nem milhares de ONGs espalhadas pelo país “informatizando” crianças carentes das favelas.
Então, o faz com que os indianos demonstrem mais felicidade do que os brasileiros? Volto a teoria de Sonja Lyubomirsky, e acredito que a felicidade não depende só de sermos responsáveis por nossos atos, mas principalmente, vem do fato de apreciarmos cada momento de nossas vidas como algo especial. E é o que se faz aqui. Os indianos sabem apreciar detalhes da vida que, para nós, são motivos de estress, algo que podem nos deixa agressivos e tristes durante todo um dia. Eles são mais pacientes e relevam mais os defeitos, os erros, as imperfeições. Eles julgam menos e compreendem mais.
Quem mora aqui sabe o quanto o trânsito é infernal, o atendimento em bancos e lojas é ocioso, o sistema é ineficiente. Mas, olhando do outro lado do vidro do carro pode-se ver que as pessoas não fazem desses problemas um peso nas costas. Muito menos se incomodam com isso. Do contrário, elas sorriem, se divertem, tentam extrair o que há de melhor nessas situações... e a vida continua...
Sonja, afinal, estava certa: A felicidade só depende da gente! E se só depende de mim para ser feliz em qualquer situação que a vida me coloque, por que não arriscar? Melhor arriscar em ser feliz do que viver uma vida de medos, angústias e frustrações que, na verdade, nao dependem só mim em modificá-las. Não aprendi a ser feliz na Índia. Aprendi que sempre fui feliz, mas não sabia. E estou aprendendo a demonstrar mais minha felicidade. E isso traz efeitos colaterais tão bons...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Vocês não sabem de tudo o que aconteceu comigo no verão…

O Verão quente de Deli estah indo embora. Ainda continua quente, mas agora o clima estah muito mais agradável do que estava antes. Durante o dia a temperatura chega à casa dos 30oC, enquanto a noite, já atinge a casa dos 25-28oC. Mas houve acontecimentos que ocorreram comigo durante o verão e que gostaria de compartilhar aqui. Duas coisinhas básicas: primeiro, o evento com a tomada do meu ar condicionado. Segundo, a minha piscina.
Bom, eu já havia comentado sobre o estrago da tomada da cozinha, que explodiu e levou junto o meu forninho. Pois bem, algo semelhante ocorreu com a tomada do meu ar condicionado... Quando se vai instalar um ar condicionado aqui, não da pra ligar o aparelho direto na tomada. Tem que ligar o ar condicionado num estabilizado e depois, na tomada da parede. O meu estava sim, mas como todos os dias estávamos sofrendo com quedas de energia, o estabilizador não suportou e quebrou. Mas o mais absurdo, é que o curto-circuito foi tão grande, que a tomada explodiu... de novo. Solução: chamar o eletricista-Tabajara. E esse era mesmo Tabajara, porque ainda teve a coragem de dizer pra mim que isso era normal de acontecer. Normal pra ele que provavelmente estava concertando tomadas explodidas todos os dias por causa das quedas de energia! Normal... Normal... Moral da historia: Ele teve que instalar um estabilizador 2 para conter o estabilizador 1, que então estaria conectado ao ar condicionado. E olha que, mesmo assim, às vezes o ar condicionado fazia uns barulhos esquisitos, como o de trator fundindo o motor. Mas ainda bem que o calorão já passou, e nem o ar condicionado esta sendo tão necessário mais.
O segundo evento veio para ajudar: nos dias de pico, a temperatura chegava facilmente aos 46-47oC. Gente, nem dormindo dentro da geladeira eu conseguia me refrescar. Um belo dia, passando pela rua que vai para o ICGEB, vejo um carinha vendendo umas bóias e piscinas de plástico, daquelas para bebe. Pensei comigo, “bem que eu podia comprar uma destas piscinas e instala-la no terraço de casa. Assim, eu tenho meu próprio mini-clube dentro de casa!”. E não é de ver que acabei ganhando uma dessas benditas piscinas de plástico de aniversario! Acho que comentei tanto e desejei tanto a piscininha, que acabaram me dando uma. Ah, mas foi o paraíso. Passei bons sábados e domingos que nem sapo na piscininha... Nossa, ajudou muito mais do que o ar condicionado. Dava ate para dar uns mergulhinhos, rsrsrs.
E assim foi o meu verão. Quente-quente, mas cheio de aventuras!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O que a Índia e Adolf Hitler têm em comum?

Creio que todos devem saber sobre a origem da suástica usada por Hitler durante a II Guerra Mundial. Todavia, recentemente, conversando com alguns colegas indianos, fiquei sabendo de que a Índia teve muito mais influencia no pensamento e filosofia utilizada por Hitler durante a guerra do que eu imaginava. Os fundamentos são profundos, mas tentarei resumir aqui. Aproveitei para fazer uma pesquisa sobre o tema, pois não queria descrever aqui fatos que poderiam não ser verdade. O conteúdo desse texto é um resumo das informações que obtive. Primeiro, vamos à explicação da suástica, para aqueles que ainda não sabem:
A palavra suástica vem do sânscrito ‘sva sti ka’ e significa ‘boa sorte’. Esse símbolo considerado sagrado é conhecido há mais de 5000 anos pela civilização hindu. Ganesha, um dos mais cultuados Deus indiano, filho de Shiva e Shakti e protetor dos negociantes, tem a suástica desenhada na palma de sua mão (ilustracao acima). Shiva também usa este yantra. Ele representa equilíbrio, expansão e evolução do universo. A suástica também foi utilizada pelos gregos e romanos no ocidente e ainda é muito utilizada na Índia, principalmente na porta das casas e templos como forma de afastar os maus espíritos e energias negativas. Já na Grécia e Roma Antiga, a suástica era usada como forma decorativa. Durante o século XIX, na Europa Oriental, esse símbolo foi usado como amuleto de proteção, onde mães e avos camponesas costumavam desenhar a suástica nas mãos das crianças para protegê-las. A versão mais moderna é a interpretação deste símbolo usada por Hitler, que utilizou a suástica como representação de seus ascendentes “arianos”. A suástica é escrita em sentido horário, representando a evolução, e nos quadrados mágicos da numerologia judaica tem o valor 360 representando o fogo – a espiritualidade e o Logos.
Entretanto, Hitler inseriu a suástica no sentido inverso, anti-horário, simbolizando a destruição. Quando Hitler criou a bandeira do Partido, procurou incorporar a suástica e ainda as cores vermelho (expressando o pensamento social que estava sob o movimento), branco (representando o pensamento nacionalista) e o preto. A suástica significaria a luta e a vitória da raça humana ariana.
O Nazismo também se apropriou da idéia da raça ariana para justificar os massacres que cometia. Devido a diversas distorções e desinformação sobre a historia inicial dos povos Arianos, foi criada uma explicação mais simples e especifica sobre sua origem. Dessa forma, descreve-se que os primeiros Arianos são provenientes da Ásia Central, e parecem ter surgido das regiões que hoje estão situados o Ira e a Índia. Ira significa 'Terra dos Arianos' e, alem da Índia, o Afeganistão e o Iraque possuem nomes com alguma derivação direta ou indireta da palavra “Ariano”. A palavra “Ariano” significa “nobre”, e na Índia tambem tem sido usada como nome próprio masculino.
Uma das religiões que possui relação entre conceitos espirituais com etnia e cultura Ariana é o Zoroastrismo (de origem persa, atual Ira). O profeta Zaratustra, fundador da religião, escreveu o chamado 'Gathas' onde fazia alusão a essa sintonia racial, apesar de que escrituras religiosas são passíveis de diversas interpretações. Alem disso, na Índia, vê-se uma corrente religiosa adepta a endogamia ate os dias atuais, onde se mantém os casamentos entre pessoas de mesma casta, a fim de se preservar a homogeneidade biológica e cultural. A cultura ariana também pode ser observada dentro do hinduísmo no livro sagrado Rig-Vedas. Nele existem descrições dos deuses arianos como seres Loiros. Existe uma valoração do próprio termo ariano com o significado de nobreza ou superioridade, e pode se dizer que a casta superior dos brâmanes concentra os indianos que não sofreram miscigenação inter-racial, por vezes ainda em estado puro. Essa ordem espiritual foi teoricamente proibida na Índia em 1950 pela pressão do Ocidente, mas permaneceu viva até hoje entre a sociedade indiana; certas castas não entram em determinados lugares ou não exercem algumas profissões (cozinhar, por exemplo). São 4 castas originais, com o tempo surgiram ramificações e atualmente existem 3.000 subcastas não-oficiais. Assim, tirando o genocídio, tal comparação não deixa de ter um fundo de verdade...

Outras informações interessantes: Hitler inspirou-se em rituais religiosos para utilizar a saudação feita pelos nazistas. Dentro do hinduismo, existem os adoradores do Deus Sol que o veneram levantando suas mãos em sua direção durante as manhas, de forma semelhante feita pelos nazistas, assim também como era feito pelos antigos egípcios no culto a Ra, o Deus Sol.
Outro fato interessante é de que há controvérsias sobre o caráter vegetariano de Hitler. "Hitler não era vegetariano. Seu doutor às vezes prescrevia a dieta vegetariana para melhorar sua saúde. Goebbles, o Ministro da Propaganda, tomou esse fato e distorceu-o para criar nas pessoas a idéia de que o Furer era um homem santo como o contemporâneo vegetariano Mahatma Gandhi. Hitler trapaceava quanto às ordens de seus médicos e fingia ser um vegetariano, comendo macarrão recheado com carne picante e coberto com molho de tomate." (texto completo em http://www.vegetarianismo.com.br/hitler.html).

Também li um artigo interessantíssimo sobre uma mulher chamada Savitri Devi (pseudônimo de Maximine Portaz), que se tornou ativista do pensamento nazista. De origem inglesa, grega e italiana, Savitri Devi era convertida ao hinduísmo e defendia o paganismo indo-europeu e o vegetarianismo, opondo-se ferozmente ao igualitarismo cristão e islâmico, assim como o comunismo e capitalismo. Seu ideal cego era tanto que uma vez, em Calcutá, encontrou-se com Srimat Swami Satyananda e expôs sua ideologia e devoção por Adolf Hitler, “o líder do único movimento expressivo europeu a favor do espírito pagão e contra o cristianismo-judaico”. Foi Satyananda quem teve o insight de que Hitler era a encarnação de Vishnu*, expressão da força que preserva a ordem cósmica. Para ele, os discípulos de Hitler eram espiritualmente hindus! ...E ela acreditou! Savitri Devi via Hitler como encarnação do Eu coletivo [Ego, Inconsciente coletivo, diria Jung] da Raça ariana. Era a realização das palavras do Bhagavad-Gita**: "Quando a justiça é esmagada, quando mal se mostra triunfante, então eu volto. Para a proteção do bem, para a destruição dos mal-feitores, para re-estabelecer o Reino da Justiça eu venho, volto a nascer de novo, de novo e de novo, Era após Era".
*Vishnu: juntamente com Shiva e Brahma, formam a trindade Hindu, e é o Deus responsável pela manutenção do Universo.
**Bhagavad-Gita: um dos livros sagrados do hinduismo.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ceu azul

Apos vários meses de seca, finalmente a chuva chegou. E com ela vieram as folhas verdes, a terra úmida e o céu azul. Tão azul que chega a hipnotizar. Eu, tão acostumada a ver o céu de Nova Deli sempre cinza, causado principalmente pela poluição, me deliciei hoje pela manha ao sair de casa e me deparar com aquela imensidão azul do céu. Tão limpo, tão azul. A temperatura também está mais amena. Saímos da casa dos 40 graus e estamos na casa dos 30-35. A brisa que passa é fresca e as noites não demandam mais ar-condicionado ligado. Esse conjunto céu azul/brisa fresca/folhas verdes me fez lembrar o verão de Brasília... Quanta nostalgia... E deu saudades da terrinha... Fechando os olhos eu pude me sentir no meio do Parque da Cidade, na Água Mineral ou mesmo no Pontão do Lago Sul. Há quanto tempo não curto uma paisagem tão linda...! Não é por ser minha cidade-natal, mas não há céu mais bonito do que o céu de Brasília. E hoje tive a oportunidade de curti-lo aqui, em Nova Deli, a 14000 km de distancia... Estou feliz! :-)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Estados e seus significados


Recentemente tive uma breve aula sobre o significado dos nomes de alguns Estados da Índia. Como achei muito interessante, resolvi postar aqui:
(1) Estado de Himaanchal Pradesh
A palavra Himaanchal vem de duas outras palavras do sânscrito (idioma que deu origem ao hindi): him e aanchal. ‘Him’ significa gelo e ‘aanchal’ é a parte do saree que as mulheres usam para cobrir a cabeça, bem como para cobrir seus bebes. Então, a palavra ‘Himaanchal’ significaria mais ou menos uma cobertura de gelo protetora. Já a palavra ‘pradesh’ significa Estado. Portanto, Himmanchal Pradesh é o Estado onde há uma cobertura de gelo protetora. Esse Estado fica no norte da Índia, já no inicio das montanhas do Himalaia.
(2) Estado de Uttaraanchal Pradesh
Uttaraanchal também pode ser dividido em duas partes: ‘uttar’ e ‘aanchal’. A segunda palavra já foi descrita acima. ‘Uttar’ significa norte. Uttaraanchal Pradesh seria, então, o Estado onde o norte esta protegido... E nem preciso dizer em que parte da Índia esse Estado esta localizado, ne?
(3) Estado de Rajasthan
A palavra ‘Raj’ significa realeza e a palavra ‘sthen’ significa lugar. Então, Rajasthan seria o local da realeza. Sim, porque esse Estado ainda preserva muitos dos palácios construídos pelos reis hindus e muçulmanos que governaram a Índia nos últimos 1000 anos (pelo menos...).
(4) Estado de Haryana
A palavra ‘hara’ significa verde. Portanto, Haryana é o Estado do verde. ‘Hary’ seria a palavra descendente de ‘hara’.
(5) Estado de Punjab
Punjab veio de duas palavras do idioma local: ‘punj’ = cinco e ‘aab’ = rios. Punjab, então, significa o Estado dos cinco rios. Antes da divisão do Estado de Punjab em duas partes (uma parte ficou com a Índia e outra, com o Paquistão), a região continha 5 rios principais que abasteciam todo o Estado
(6) Estado de Maharastra
No idioma local, ‘maha’ vem de ‘grandioso’ e ‘rastra’ significa nação. Assim, ‘Maharastra” nada mais é do que o Estado que contem ‘uma grande nação’.

Ah! Também aprendi o porquê dos Himalaias terem esse nome. De acordo com o sânscrito, ‘alaya’ significa lar e, como eu já havia explicado antes, ‘him’ significa gelo. Então, os Himalaias são o lar do gelo, o lar da neve...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

ICGEB

Venho comentando em meus posts sobre o meu local de trabalho, mas nunca realmente falei sobre ele. Pois bem, esse texto será sobre o ICGEB (International Centre for Genetic Engineering and Biotechnology), que é o lugar onde estou trabalhando aqui na Índia. Sim, vou falar sobre ele porque o considerado um dos lugares mais aprazíveis de se trabalhar.
O Instituto fica no sul de Nova Deli, perto da JNU (Jawaharlal Nehru University), na Avenida Aruna Asaf Ali Marg. É o ultimo Instituto de pesquisa da Avenida, pouco conhecido por muitos, mas muito conhecido no mundo cientifico. Para se chegar ao Prédio principal, temos que andar mais ou menos uns 500m dentro da área do Instituto. A rua é seguida por arvores, cujos galhos formam um grande túnel verde, dando uma sensação de que estamos entrando no Jardim botânico e não, num Instituto de pesquisa. O local todo é preenchido pelo verde. Nem parece que estou em Deli. A arquitetura do prédio também é bem interessante. Não sei explicar como e do que é feito, mas sinto-me entrando num castelo. Do terraço podemos ver do Qtub Minar ate Nehru Place. É o local de reflexão. Quando o trabalho está muito puxado ou quando temos que desenvolver novos experimentos, escrever artigos, etc e tal, é lá que nos refugiamos. Alem da vista ser maravilhosa, muitos aproveitam para admirar as varias espécies de pássaros que sobrevoam o local. O canto dos passarinhos que pousam é muito reconfortante. É também o ponto de encontro para festinhas e happy hours. E quando chove, todos correm para o terraço a fim de admirar a água que cai.
No térreo, perto da cantina, há um jardim onde, exceto no verão (pois o clima está muito quente), as pessoas se reúnem para tomar chá, café ou mesmo passar o tempo conversando. Uma ou duas vezes por ano, os doutorandos se reúnem no jardim para um campeonato de críquete ou badminton.
Aqui não existe horário de trabalho. Na verdade, existe, que é das 09h30minh as 17h30minh, mas só o pessoal da administração o cumpre. Cada um faz seu próprio horário. Tudo depende do experimento a fazer, da vontade em se chegar mais cedo ou sair mais tarde. No mundo da pesquisa, o chefe esta lá para dar conselhos e orientar seus subordinados, mas em geral, é cada um por si. Sou eu que desenvolvo meus experimentos, sou eu que escrevo meus artigos, sou eu que vou atrás dos reagentes que preciso. Não dependo de ninguém e, muitas vezes, nem do meu chefe... Alias, depender do chefe, na minha profissão, significa não ser capaz de ser um bom pesquisador...
A maioria do pessoal sempre trabalha mais do que às 8 horas exigidas... E não reclama. Mas com a paisagem que temos todos os dias, não há quem se estresse por aqui. Sempre há o que fazer, mas tudo no seu tempo. E há espaço para sair e tomar chá, para admirar os pássaros no terraço, para meditação (nossa pausa pessoal do dia-a-dia), para se reunir e contar piadas e para trabalhar, claro. Se quiser vir aos sábados e domingos, será bem vindo. Mas se quiser tirar uma sexta-feira de folga para aproveitar um feriado e viajar, não terá problema. O que importa não é quanto tempo estou despendendo no meu local de trabalho, mas o quanto sou capaz de produzir no período em que estou aqui. Se produzo muito, ganho vantagens. Se não produzo, tenho que ficar aqui ate mostrar algum resultado. Tudo muito justo.
O Instituto também incentiva alunos e funcionários ao esporte e as artes. Um fato raro aqui na Índia. Alem dos campeonatos de críquete, badminton e ping-pong (Ah! Aqui também tem uma sala de ping-pong para o pessoal aliviar o ‘estresse’ durante o horário de trabalho) há também apresentações artisticas freqüentes, onde musicistas e dançarinos mostram o que há de melhor do clássico indiano. Alem disso, temos mostra de filmes americanos (relacionados com a saúde ou o meio ambiente, claro, tal como o filme ‘Filadélfia”) uma vez por mês. E lembrando que normalmente, é no horário de trabalho.
Enfim, quem já trabalhou aqui vai saber que será muito difícil encontrar outro lugar tão agradável. Tanto de estrutura e paisagem, quanto de equipe. Ou vai me dizer que você também pode desfrutar de jardins, chás, trabalho ‘fora de hora’ (no sentido de que você pode trabalhar no horário que quiser) e apresentações culturais frequentemente no seu trabalho?



quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cabelo branco

Não sou muito de reparar nos cabelos brancos das pessoas, a não ser que todos os cabelos sejam brancos. E quando alguém vem comentar que encontrou um cabelo branco na cabeça, fico a pensar comigo: “Puxa, tenho 30 anos e ainda não tenho cabelos brancos. Bom pra mim!”. Mas como diz o ditado ‘tudo o que é bom dura pouco’, isso durou pouco pra mim também.
E é engraçado que, quando encontramos o primeiro fio de cabelo branco na cabeça, ele nunca está escondido entre as madeixas; o cabelo-terrorista aparece bem no meio da cabeça, é um fio grosso e brilhante e ainda por cima insiste em se manter contra a lei da gravidade. Foi assim que aconteceu comigo. Lá estava eu lavando minhas mãos no banheiro do ICGEB, quando me atrevo a olhar no espelho. De repente, vejo aquele fio apontando para cima como se fosse o cabelo do Cebolinha. A principio, pensei que era o reflexo da luz que fazia com que ele se parecesse branco. Tudo ilusão. Era branco mesmo. Antes que qualquer pessoa pudesse entrar no banheiro e ver aquele horrivel fio, comecei desesperadamente a tarefa de arrancá-lo da minha cabeça. Puxei tanto, que vieram outros cinco fios ‘normais’ junto. Fiquei descabelada e quase careca (exagero!), mas a missão foi cumprida. Dei logo um jeito de eliminar a prova do crime e tratei de jogar o cabelo-terrorista no lixo. Ninguém viu, ninguém viu... E saí do banheiro como se nada tivesse acontecido...
Mas agora, segue-se o trauma diário: todos os dias, antes de sair de casa, volto-me ao espelho na procura de mais fios brancos. Até agora não encontrei mais nenhum. Mas o medo permanece...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Do not spit

Esse post vai ser bem curtinho. Apenas um comentário. Fui fazer uma viagem de trem pela Índia e, ao chegar à estação ferroviária, deparei-me com a seguinte placa:
(Favor não cuspir)

Onde mais no mundo é preciso ter uma placa dessas para evitar que as pessoas inundem o chão de cuspe? Só aqui mesmo...

Agora, não entendi a ilustração...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Made in Brazil

Há duas semanas atrás, o jornal “Hindustan times” publicou um artigo sobre a influencia que a novela “Caminho das Índias” esta fazendo na população brasileira. O interessante é que o autor do texto é o embaixador da Índia no Brasil. Ele mostrou seu ponto de vista e opiniões muito verdadeiras, bem como descreveu o modo como ele vê a população brasileira diante do que é passado na novela. Resolvi traduzir algumas partes do texto e postar aqui. No jornal o texto parece ser bem pequeno, mas aqui ficou um pouco grande. Mas vale a pena ler:


“Como diplomata há mais de 30 anos, tenho representado a Índia em todos os continentes do mundo: Europa, Ásia, América do Norte, África e agora, América do Sul. E durante todos esses anos, eu nunca vi nada comparado ao que estou vendo agora: a mais estranha e forte manifestação de atração pela Índia por meio da novela brasileira “Caminho das Índias”.
Um poder amenizado é um novo conceito nas relações internacionais. A palavra ‘coined’ (que vem de ‘coin’ – moeda), de acordo com o Professor de Harvard Joseph Nye, traduz como algo que é relevante, especialmente no mundo de hoje. Nye argumenta que apesar dos aspectos convencionais de poder conhecidos – poder militar, influencia política – a atração de um país, com respeito a seus aspectos mais ‘suaves’ – cultura, artes, imagem, status moral, etc - pode também ter um forte impacto, criando boas ou más influencias. Isso não é verdade?
Claro, como um diplomata indiano, eu tenho consciência disso, mesmo antes da teoria. Nós somos uma civilização única com cultura, costumes, vestiário e culinária característicos. A Índia é um pais complexo e nossas contradições e hábitos curiosos não são sempre fáceis de compreender. No entanto, há respeito pelos indianos e apreciação por nossa cultura. Eu tenho sempre batalhado para mostrar para o publico de um pais estrangeiro algo sobre minha terra e seus valores. Mas eu nunca havia imaginado que uma novela popular poderia alterar tão dramaticamente as impressões de um pais, principalmente um pais tão grande e populoso quanto o Brasil.
Assim como a novela “Caminho das Índias” chega à casa dos brasileiros todas as noites, a curiosidade e afeição pela Índia parece estar crescendo. Nós sabemos disso pelo numero e tipo de questionamento que recebemos em nossa embaixada e as perguntas que respondemos hoje em dia: o que significa o ‘bindi’, se os Dalits ainda são intocáveis na Índia, se homens e mulheres adultos dançam o tempo todo em casa, e muitas outras tantas esquisitices que são vistas na novela. Nós fazemos o que podemos com humor e imaginação para responder a tais questões. Nem todo mundo quer ouvir longas aulas ou discursos sérios para ter as perguntas respondidas. Temos também visto o mercado crescer na oferta de ‘sarees', ‘kurtas’, incensos e outros artigos exóticos. Nós carecemos de autênticos restaurantes indianos em cidades como Brasília e Rio de Janeiro. A oferta de uma culinária indiana está hoje limitada a apenas a cidade de São Paulo.
Uma questão freqüente que eu sempre me pergunto é: essa é uma novela autentica? Ela mostra a realidade da Índia? Eu honestamente não sei como responder. Primeiro, novela é uma novela e não, um documentário. Pela sua própria natureza, ela exagera, glamoriza e seleciona o que é exótico mais do que aquilo que é habitual e comum. Os brasileiros, até o momento, parecem entender isso. Segundo, o que é REAL num país com tanta diversidade, complexidade e contradições? Eu termino dizendo a meus amigos brasileiros que tudo o que a novela mostra é verdade em partes, em alguns lugares, mas o oposto é verdadeiro em equivalência. Nas perguntas mais freqüentes sobre casamentos arranjados, sistemas de casta, dote e similares, nós aproveitamos essas questões como uma oportunidade de mostrar nossa Índia moderna.
Por que Índia? Pergunta meus colegas, diplomatas de outros paises que hoje, mantêm aquele toque de inveja. Eu não sei, pergunte a Gloria Perez, a escritora. Mas em reflexão, eu sinto que a Índia é, talvez, um modelo natural. Apesar de tudo, nós nos parecemos. As atrizes brasileiras são extremamente lindas, mas também conseguem parecer bem indianas e convincentes. Atores brasileiros de renome atuam bem em papeis de um Pandit ou de um patriarca indiano, mesmo quando todo o dialogo é em português. Então, vem as afinidades naturais. Os brasileiros adoram estórias voltadas para o amor familiar com infinitas complicações, bem como nós. Os brasileiros são românticos e nós também, mesmo que o estilo de romantismo seja diferente! Eles gostam de estórias sentimentais com risos e lagrimas; nós nos atraímos pelos mesmos perfis. E ainda, somos tão diferentes. Temos costumes completamente diferentes de comer, namorar, romancear e casar. Tudo isso adiciona ‘masala’ a novela.
E mesmo sem a novela, estamos num bom momento de relações Índia-Brasil. O presidente Lula e o Primeiro Ministro Manmohan Singh são amigos e mantêm contato tanto para o G-20 quanto para o IBSA, muito acronismo de arquitetura internacional que nos coloca juntos.
As relações entre Índia e Brasil mudarão para sempre por causa da novela? Eu não seria ingênuo o bastante para acreditar nisso. Mas, futuramente, em cada esquina do Brasil, ‘saree’ não será mais uma palavra desconhecida, ‘theek hai’ poderá ser entendido e um visitante indiano poderá ser recebido com um toque de familiaridade.”

B.S.Prakash (Embaixador da Índia no Brasil).

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Formula auto-rikisha

Li outro dia, não sei onde, um artigo explicando o porquê de ocorrerem tantos acidentes automobilísticos catastróficos nos Estados Unidos. De acordo com o escritor (de quem também não me lembro o nome), nos Estados Unidos, as pessoas acreditam e confiam no sistema de transito e, portanto, o obedecem. Assim, ninguém perde tempo olhando para os lados antes de atravessar uma pista quando o sinal esta verde. O motorista sempre acredita que ninguém será doido o suficiente para ultrapassar o cruzamento com o sinal vermelho. Por isso, quando alguém o faz, o resultado são acidentes fatais.
Sem querer, acho que esse cara explicou porque aqui na Índia eu nunca vi acidentes de transito com vitimas fatais. Claro que deve acontecer, mas não é freqüente. A verdade é que ninguém confia ou obedecem às leis de transito por aqui. É um mar de “salve-se quem puder”, onde carros competem entre si para ver quem ultrapassa mais sinais vermelhos, anda mais na contramão ou faz mais ‘gatos’ durante um dia. Não existe carro sem um amassado na lataria, pois batidas ocorrem diariamente. É como estar num parque de diversões, naquele brinquedo de carrinhos de bate-bate. Se bateu, há uma discussão entre os motoristas que dura de 2 a 5 minutos e pronto, cada um vai para o seu lado. Às vezes, os motoristas nem se dão ao trabalho de discutir e simplesmente continuam a seguir pela via como se nada tivesse acontecido. E não é só entre carros; os auto-rikishas também fazem parte do cenário. E como fazem! Quando as pistas estão um pouco mais vazias, eles aproveitam para usar toda a potencia do veiculo e correm como se estivessem num rali. Só que um rali sem navegador, sem sistema de segurança... Só o motorista e nós, passageiros, que ficamos pulando de um lado para o outro no banco de trás. Outro dia peguei um desses para ir para casa. Creio que o motorista deveria estar participando de uma Formula auto-rikisha urbana e resolveu me levar com ele. Alem do fato do veiculo provavelmente não ter freios – pois o rikisha quase chegou a ficar sob duas rodas em uma das curvas durante o percurso – o motorista corria tanto que eu já estava procurando um lugar com faixas, cartazes, torcidas e uma fita atravessada na pista simbolizando a linha de chegada. Acho que o total do trajeto deve ter levado 20 minutos, mas, na minha cabeça, levou umas duas horas... Juro que senti meu coração pulando pela boca. Isso quando eu não tinha que segurar minha mochila que quase ia voando rikisha-afora. Ah, e detalhe: eu estava de saia. E essa fazia questão de esvoaçar o maximo possível só para eu ficar mais aflita. Nessa hora aprendi todos os mantras hindus, orações católicas, e preces muçulmanas existentes no universo. Nunca rezei tanto, tão rápido e tão desesperadamente em minha vida... e miraculosamente, o motorista conseguiu fazer todo o trajeto sem nenhuma batidinha. Faltando 200 metros para chegar a minha casa, meu subconsciente já estava tão no ritmo de corrida que começou a tocar a musica-tema do Ayrton Senna... Gloria! Cheguei em casa viva! Dei ate um trocado a mais para o motorista; não por merecimento, mas para que ele nunca mais apareça em minha vida...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A saga do sutiã

Descobri uma coisa muito desagradável no meu gaurda-roupa: estou sem sutiã! Bem, eu tenho uma boa quantidade de sutiãs, mas todos em situação pos-terceira Guerra Mundial. Só me restaram dois: o que eu estou usando e o que está para lavar. O pior é que, o que estou usando já está sujo, e o segundo ainda não foi lavado... Quando abri a gaveta de sutiã para procurar algo que eu pudesse usar, me deparei com uma cena horrível. Descreverei a situação em que se encontravam meus sutiãs:

O primeiro que peguei estava em boas condições, mas com as alças arrebentadas (e ele não tinha a opção de uso tomara-que-caia). O segundo não fechava, pois já não tinha o gancho que prende o sutiã nas costas. O terceiro parecia que havia sido usado por cupins, pois tinha mais áreas de ventilação (traduzindo: buracos) do que áreas de cobertura. O quarto sutiã tinha tudo, alças, gancho, sem buracos, mas quando o vesti, ele foi parar na cintura, de tão relaxado que já estavam as alças e o tecido do bendito. E não acreditei quando peguei o quinto sutiã: esse estava preparado para ser usado por alguém que sofreu mastectomia do seio esquerdo, pois, incrivelmente, ele só tinha o lado direito do busto... :-P

Sem contar que, o sutiã de rendinha que eu tinha, todo delicadinho e fofinho, não me servia mais. Senti-me usando um sutiã de pré-adolescente quando o vesti (ta bom, eu não me senti com sutiã de pré-adolescente, me senti uma Tchitcholina mesmo...).

Sinceramente, acho que estou precisando de novos sutiãs...

Fiz um grande novelo com todos os sutiãs danificados e joguei tudo no lixo. Adeus, sutiã cruel!

Lógico que a historia não acaba por aqui. Afinal, eu só vou comprar sutiãs novos no próximo final de semana e para não me chamarem de preguiçosa, já lavei os dois sutiãs usáveis que estavam sujos. Enquanto eles secam, vou usando a parte de cima de uns biquínis que tenho por aqui. Pelo menos eles ganham uma utilidade na Índia.

Peitos para-que-te-quero, nunca pensei que eu fosse sentir tanta falta de um sutiã assim...


terça-feira, 14 de julho de 2009

Isso é bom?

Creio que não existem coisas boas ou coisas ruins. Existem coisas boas ou ruins para nós apenas; tudo depende da nossa criação, de nosso hábitos e, principalmente, da nossa capacidade em estarmos abertos a novas experiências. E percebo que, para as pessoas presas a rotina do dia-a-dia, um almoço num restaurante diferente é ruim, o jiló se torna ruim, a carne mal passada se torna ruim, o refrigerante que não é Pepsi ou Coca-cola não é bom. Quem se limita aos próprios hábitos não se atreve a experimentar um passeio diferente, uma viagem a um lugar diferente, uma refeição em horário diferente, um filme ucraniano quem sabe.
Para sair do Brasil e viver na Índia, um pais com hábitos e culturas completamente diferentes, é preciso ultrapassar a barreira do “bom e ruim pra mim” e abraçar o horizonte do “tudo é experiência”. Afinal, o que é ruim para mim pode ser o que há de melhor para outra pessoa. E do que adiantaria cruzar milhares de quilômetros para chegar aqui e não aproveitar nada do que a Índia tem a me oferecer? Nunca gostei de comida apimentada, mas eles adoram. Então deve ter alguma coisa boa nisso, por que não experimentar? Usar roupas coloridas e brilhosas? De acordo com a minha criação, isso é brega, cafona. Mas aqui é moda. Por que não tentar? Quem sabe me sinto mais confortável com essas roupas do que com as que eu usava anteriormente e nem sabia que me incomodavam tanto... Comer com as mãos ao invés de usar talheres, ficar de baixo de uma chuva e me divertir, viajar para os Himalayas com um motorista louco que dirige a 80 km/h numa estradinha a beira de penhascos, dormir sem ar condicionado num clima de 36º C... Para fazer tudo isso não é necessário coragem. Muito menos chega a ser irresponsabilidade ou preguiça. É preciso simplesmente se libertar dos antigos costumes, dos pré-conceitos bobos que criamos não sei por que, e aproveitar o que vier. Em todos os sentidos da palavra. Aproveitar de experimentar, de se divertir, de extravasar. E quem disse que isso não é bom?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Só comigo acontece essas coisas...

Numa bela noite de calor, lá estava eu no meu quartinho toda refrescada pelo ar condicionado, já pronta para dormir, quando, de repente, a luz acaba. “&^*#@$!!!!” foi a primeira coisa em que pensei. Há duas semanas que a Companhia de Energias Elétricas de Delhi vem brincando de liga-desliga/desliga-liga, nos deixando sem luz a qualquer hora do dia ou da noite, e por tempo que varia de 15 minutos a infinito. E quando a energia cai à noite não há santo que consiga dormir; o jeito é esperar a bondade divina para que o ar condicionado volte a funcionar e o quarto fique fresquinho o suficiente para que eu não precise molhar o colchão para ter uma boa noite de sono. Pois bem, voltando ao assunto. Como já não ia dormir mesmo, resolvi ir para a varanda do meu ape para me refrescar. Nisso, reparo que, não somente todos os outros prédios da vizinhança tinham energia elétrica, como também os outros apartamentos do prédio em que moro! Ai apelei. Não acredito que a CEB de Delhi ia ser tão sacana comigo a ponto de corta única e somente a energia do MEU apartamento!
Desci as escadas e fui ao apartamento do térreo falar como o “landlord” (o dono do prédio e para quem o aluguel devemos pagar), e perguntei se a chave do meu ape tinha caído (pois já aconteceu isso algumas vezes devido à quantidade de energia que o ar condicionado puxa), mas estava tudo normal. No prédio em que moro, somente eu tenho ar condicionado, o que implica que, quando a energia cai só no prédio e em mais lugar nenhum, a culpa é do ar condicionado.
Bom, se não era a chave que tinha caído, o que poderia ser, então? Voltei para o meu apartamento, e quando estava entrando, senti um cheiro forte de queimado vindo da cozinha. Quando abri a porta, descobri a razão do meu problema: uma das tomadas havia explodido (como, eu não sei), e levou junto toda a fiação elétrica da casa. As únicas coisas que funcionavam eram o interruptor da luz da cozinha e a tomada da geladeira, mais nada (que provavelmente vinham de outra fiação, ou não estariam funcionando também). Ate o meu forninho elétrico foi destruído no incidente.
Nessa altura do campeonato já era quase meia-noite e, logicamente, não havia eletricista disponível para ir consertar a bagunça. O jeito foi improvisar... E improvisei indo dormir num hotel. Pelo menos aqui perto de casa tem uns 5 hotéis e, devido à concorrência entre eles, os quartos são bons e os preços não tão ruins. Aproveitei ate para degustar o café da manha (tava pagando mesmo...), mas dormi que nem um bebe e só voltei para casa para buscar meu computador e fui trabalhar.
Agora estou aqui, escrevendo este texto. Hoje de manha, antes de vir para o ICGEB, eu pedi para o dono do prédio chamar um eletricista durante o dia já para ir consertando o estrago. Estou aqui pensando qual a surpresa que terei a noite ao chegar em casa... Será uma surpresa boa ou ruim? De qualquer forma, hoje é sexta-feira, amanha não terei que trabalhar, então o pior que pode acontecer é se a tomada da geladeira resolver tomar partido na revolução e também queimar... ‘Bate na madeira’...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Frutinhas

Estamos no verão. E é a melhor época para experimentar frutas exóticas, bem como saborear as frutas que já conhecemos aqui na terra de Aladim. O solo e o clima da Índia devem ser muito bons para se plantar frutas, pois todas as que compro são docinhas e suculentas, principalmente as mangas: parece que estou comendo do pe! As bananas, então, são uma delicia! Não tem uma que compro que não seja doce e gostosa. O coco também; apesar de algumas vezes a água do coco não ser tão doce, a fruta em si é muito saborosa. Fazer suco de melancia aqui nem requer a adição de açúcar, e da pra comer quase uma inteira sozinha! (ate porque aqui tem umas melancias bem pequenas, do tamanho de um melão, hehe). Ate pêssegos e macas, que normalmente são frutas importadas, são gostosas. Com uma qualidade invejável, o preço das frutas na Índia tem a vantagem de serem muito mais baratos do que qualquer feira ou verdurao no Brasil. Leve 50 rúpias ao mercado e voltara com uma sacola abarrotada das mais diversas frutas (lembrando-se que a cotação de hoje esta R$1,00 = Rs 23/-).
Mas o que mais gosto é de experimentar as frutas típicas indianas. Existem três que já provei ate agora e que nunca encontrei no Brasil: o lychee, o chiku, e o karbuja (estou colocando todos os nomes no masculino porque não sei em que gênero são conjugados em hindi). E da para encontrá-las não somente na fruta em si, como também em forma de sucos, sorvetes e doces.
Semana passada teve festa do lychee no laboratório. Vou explicar: de vez em quando, alguém traz uma quantidade extremamente exagerada de frutas para o laboratório que é dividida por todos e, por isso, acaba virando festa. Já tivemos festa da manga e da melancia – duas vezes cada – agora chegou a vez da festa do lychee. A fruta é pequena, do tamanho de um limão, com uma casca grossa da cor de um morango. Da para descascá-la com a mão, e o que você encontrara dentro são gomos esbranquiçados, parecidos com o que vemos quando retiramos a casquinha das uvas. Mas o gosto é bem doce, como se você estivesse comendo morangos com muito, muito açúcar. Yummy!
O Chiku é uma fruta que se parece com um kiwi do lado de fora, da ate para confundir as duas frutas. Na verdade, o chiku é originário da América Central, mas atualmente a produção na Índia é bastante elevada. Por dentro, no entanto, é de cor amarronzada, e o gosto é de cana-de-açúcar! Se o lychee é doce, imagine o chiku! Hummm....
Já o karbuja é da família dos melões. É uma fruta muito famosa no sul da Índia, principalmente em alguns rituais religiosos, mas também é freqüente vê-la aqui no norte do pais (infelizmente, nao consegui ilustracoes). Por fora, esta fruta se parece muuuuiiitoo com aquelas abóboras que se usam nos Halloweens, só que menor. Nunca havia comprado porque sempre achei que FOSSE abóbora... Ate que descobri que era melão! Só que esse melão é de cor alaranjada e também mais doce do que os melões amarelos que temos no Brasil.
Só posso concluir uma coisa com esse post culinário: a balança vai subir!!!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O chefe viajou!


Em todo lugar é a mesma coisa: é só o chefe viajar que todo mundo fica mais lento no trabalho… é gente chegando tarde, saindo cedo e, nesse ínterim, passam o tempo jogando paciência, baixando musicas e vídeos pela internet, batendo papo e fazendo diversas paradas na cantina (quando o ambiente de trabalho dispõe de uma). Pois é, e eu tive a incrível descoberta de que...de que... em TODO lugar é assim! Todo lugar messssmo. Não pensem que num ambiente onde a maioria dos funcionários tem, no mínimo, um mestrado em seu currículo, obedecem as normas de trabalho ao pe da letra. E é muito engraçado ver aquela cambada de pesquisadores de renome saírem às escondidas porque o pesquisador chefe daquele grupo foi fazer uma viagem para participar de conferencias na Europa. Parece ate piada, mas ate no's pesquisadores, que trabalhamos praticamente por conta própria, não precisamos participar de reuniões diárias, damos satisfação ao nosso chefe uma vez na semana (e olhe lá!), não temos obrigatoriedade de horários de trabalho e tocamos nossos projetos com certa independência, nos consideramos no “dever” de sairmos mais cedo quando o chefe não está presente. Por mais que tenhamos trabalhos importantes para fazer, por mais que os experimentos exijam que fiquemos ate mais tarde trabalhando, não tem jeito: se o chefe não estiver lá pelo menos para dar uma passadinha no laboratório e dizer que está vivo, não há trabalho que renda.
No Instituto de Pesquisa em que estou, da' para saber quantos pesquisadores-chefe estão viajando pelo movimento da cantina: a maioria do pessoal toma o café-da-manha e almoça lá. Então, quando o movimento esta' fraco (e fraco entende-se como se fosse feriado, de tão vazio que fica) é porque alguém viajou. Essa semana descobri que um deles já esta viajando há uma semana e deve ficar pelo menos mais duas fora da cidade. Quando da' 17:30h, se você passar pelo laboratório dele ouvira' somente o barulho dos grilos, pois a manada de estudantes já debandou. No meu não é diferente. Meu chefe já esta há quase um mês sem aparecer no laboratório. E muita gente que antes trabalhava com afinco ate' as 19:00-20:00h, agora já da' o adeus as 18:00h. Quem chegava as 9:30h agora já chega as 10:00h e tem outras que já estão apelando, chegando ao meio dia. Tem dias que quase chego a perguntar se é feriado, pois um terço do pessoal chega tarde, outro terço não aparece e, o terço de gente que chega no horário, não trabalha...
Moral da historia: não adianta ter doutorado, pós-doutorado, pre-doutorado, de-lado-doutorado; sem um chefe para constantemente nos chicotear, ninguém faz.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Brazil... Ronaldo...


Resolvi fazer uma viagem ao Sri Lanka. É um pais pequenino, ao sul da Índia, pouco conhecido para o turismo por nos do continente americano, mas bem procurado por europeus, principalmente russos e suíços (não me pergunte por que, mas é o que me disseram lá). Pois bem, mirei o sul de Sri Lanka para evitar qualquer problema, pois ao norte há conflitos ocorrendo e eu não queria estragar meu passeio. Escolhi, então, uma cidade perto da capital do pais (Colombo), com praias famosas por acolher turistas estrangeiros. Negombo lá vou eu! Consegui meu visto em 1 dia apenas, apesar da taxa meio salgada a ser pagar... Mas pelo menos valeu pelo prazer em não se ter burocracias na embaixada. Parti para o aeroporto e embarquei. Quatro horinhas de viagem. Ao chegar ao aeroporto em Colombo, segui para a fila de imigração. O atendente, ao ver meu passaporte, olhou para mim e disse:
- Humm...Brazil... Ronaaalllldo...
Ah não! Ate no Sri Lanka?! É interessante como as pessoas conectam Brazil com futebol. Antigamente era com o Pele, agora é com o Ronaldo. De vez em quando ainda sai um Ronaldinho, Kaka, Robinho... e quando não é com futebol, a relação que se tem do Brasil é com o “festival em que as mulheres dançam peladas”; traduzindo, o Carnaval. Se isso é bom ou ruim eu não sei, mas graças ao “Ronaaallldo”, rapidinho meu passaporte foi carimbado e pude sair do aeroporto e desfrutar das praias de Negombo.
E para dizer a verdade, as praias de lá são muito bonitas, mais ate do que as de Goa, lugar considerado o ‘Rio de Janeiro’ da Índia. E, se eu não estiver exagerando, ainda achei melhores do que muitas praias do Brasil. O lugar é limpo, não é tumultuado, as praias são lindas, com todo o cenário típico: coqueiros, areia branca, céu azul, água cristalina... e morninha! Fiquei igual a sapo de água salgada (se é que existe algum), era quase o dia inteiro no mar... ai que delicia!
Bem, como tudo que é bom dura pouco, chegou a hora de ir embora. Ao chegar ao setor de imigração do aeroporto de Nova Deli, imaginem vocês o que o atendente me disse ao pegar meu passaporte:
-Humm... Brazil... Ronaallldo...
Juro que nessa hora não consegui fazer somente o sorriso amarelo, tive que dar uma gargalhada. Puxa, será que eles combinam de dizer a mesma coisa quando pegam um passaporte do Brasil? Hehe.
Bom, pelo menos na hora foi engraçado...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Paninho sujo

Chegamos ao verão. Com 45 graus de calor na cabeça durante as tardes e uma falta de umidade que deixa Brasília no chinelo, o jeito é ir se virando com os bem conhecidos paninhos refrescantes. Sim, aqueles lenços úmidos que compramos no supermercado e ajudam a eliminar a sujeira do rosto, tiram maquiagem, etc e tal. Só que, ultimamente, não da pra usar somente um lencinho no final do dia; são pelos menos uns dois pela manha, mais uns três à tarde e outros três durante a noite. Como o clima esta muito seco, a leve brisa da manha parece mais um tornado cheio de poeira que, quando te pega, deixa serias marcas amarronzadas no seu rosto, roupas, cabelo e no que mais você estiver assessorada. Da ultima vez que usei uma peca branca, eu fiquei com tanta marca marrom na roupa que, se eu resolvesse parar no sinal de transito, era capaz de ganhar umas moedinhas, pois as pessoas pensariam que eu era uma menina de rua. Roupa branca agora, só depois de agosto...
Voltando aos paninhos refrescantes... esse daí da foto eu usei logo depois que cheguei ao ICGEB pela manha... após ter ido ao trabalho de oto... 15 minutinhos de viagem... e eu tinha tomado banho em casa antes... imagina como meu rosto estará à noite...? E haja paninho!
Agora imaginem a cena: 45 graus, certo? Uma suadeira danada; some a poeira e você poderá sentir o mesmo frescor que sinto todos os dias quando eu chego em casa...hhhuuummm dilicia! He he he
É um ritual diário: sair de casa... paninho... limpa, limpa... ir ao sol... paninho... limpa, limpa... olha o vento!... paninho... limpa, limpa... A vantagem é que há paninhos dos mais variados aromas: laranja, limão, rosas, pepino, camomila. O ultimo, o preferido de Anne. Alias, a bicha alem de se limpar toda hora com o lencinho, cheira tanto o coitado que chega a ficar dopada. Tudo bem, o cheiro desses paninhos é realmente muito agradável, mas é a primeira vez que vejo alguém viciar em lencinhos higiênicos...
Bem, estou planejando um ritual sagrado ao Deus da chuva na próxima sexta-feira de lua cheia. Tem vaga para o pessoal da percussão que quiser ajudar a tocar os tambores. Quem quiser contribuir com galinha branca também pode vir, tudo é bem-vindo (ainda existe o traço no “bem-vindo” ou a revisão ortográfica tirou...?). Vai começar a meia-noite e só termina quando as primeiras gotas de chuva começarem a cair. Venham bem preparados e munidos de colchonete, barraca e comida, pois o ritual pode levar um tempinho para surtir efeito...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Desabafo...

Detesto gente esnobe e egoísta, principalmente quando não sabe o que fala. Pois bem, este post é mais um desabafo do que a descrição de algum acontecimento meu na Índia, mas minha língua já estava cocando e eu precisava extravasar... E já vou avisando que sou tosca, então qualquer comentário bruto será normal de minha parte. Então vamos lá...
Não sei por que brasileiro tem essa mania de ficar esnobando só porque subiu meio degrau na vida. Brasileiro quando está na Europa ou nos Estados Unidos trabalha de garçom, faxineiro, lava pratos e banheiros, e ainda sente orgulho de estar num pais estrangeiro ganhando pouco e trabalhando muito. Mas, brasileiro que vem para a Índia não vem para lavar pratos; de maneira geral, são pessoas com satisfatório poder aquisitivo, que podem usufruir de casas confortáveis, motoristas, hotéis 5 estrelas, etc, etc, etc. Repito, de maneira GERAL, não a totalidade...
Pois bem, de vez em quando ouço comentários negativos sobre a Índia de brasileiros que, creio eu, deveriam conhecer mais sobre o pais de origem antes de soltarem as tais “perolas”. Primeiro, porque o Brasil esta muito longe de ser um pais de primeiro mundo, perfeito e cheirando a Jasmim; segundo, porque nenhuma das criticas vem acompanhadas de soluções... Então por que criticar?
A Índia é um pais pobre? É sim senhor. Tem miséria, favela, mendigo na rua? Tem sim senhor. E o Brasil, é um pais pobre? Tem miséria, favela, mendigo na rua...? Quem nunca viu, por favor, levante a mão que eu saio daqui de Delhi e te levo ao Rio, São Paulo, Recife, Brasília (pode escolher a cidade) para ver uma. Com o agravante de que, no Brasil, você pode não voltar vivo da favela...
A Índia é um pais muito perigoso, sabe. Tem atentado terrorista de quando em quando - é um perigo! As vezes é um homem-bomba, as vezes é só a bomba mesmo que largaram num centro comercial, as vezes perto de um templo hindu... Mas posso sair com meus colares, brincos e anéis nas ruas que ninguém vai chegar com uma arma e apontar para a minha cabeça só para levar uma bijuteria. Posso ficar sentada na porta da minha casa que ninguém vai passar de carro, apontar outra arma na minha cabeça, e levar minha bolsa, assaltar minha casa, me seqüestrar... Posso andar de carro pelas ruas e parar no sinal de transito tranquilamente, porque o maximo que pode acontecer é atrair umas 10 criancinhas para a janela me pedindo dinheiro ou vendendo rosas. Ah! E se eu quiser dar um passeio, posso ficar muito decepcionada, pois não vou ter que me esconder por causa de tiroteios na rua, e muito provavelmente nem vou ficar ferida por causa de balas-perdidas...
Uma dos maiores inconvenientes que estrangeiros passam na Índia é com a sujeira nas ruas. Mas, quem já foi ao centro da cidade do Rio de Janeiro, já passou de carro pela Marginal Tiete, pelos canais de Santos e pelas ruas de Brasília, sabe que a paisagem não é muito diferente da daqui. Ah, é sim! No Brasil temos pichações...
Querem mais? Enquanto o PIB do Brasil foi de cerca de 3% anuais nos últimos três anos, a Índia vem mantendo uma media de 9% anuais, e mesmo com a crise financeira mundial, conseguiu atingir 7%. E olha que aqui são quase 1 bilhão de pessoas para administrar, dar comida, educação, trabalho... No Brasil, somos cerca de 200 milhões e andamos na corda-bamba para manter o mesmo ritmo de crescimento... quer dizer, um crescimento ainda inferior...
Brasil e Índia são, ambos, paises em desenvolvimento; nenhum é perfeito, cada um tem seus defeitos e isso nos confirma que nenhum é melhor ou pior que o outro. Recentemente, li o post do blog de Elaine Rodrigues, onde ela faz um comentário sobre o fato de que, na novela “Caminho das Índias”, Gloria Perez mostra apenas o lado bonito do pais. Recomendo a leitura (http://www.beijonope.blogspot.com/). Como ela cita, “devemos parar de ‘meter o bedelho’ na cultura alheia, a ponto de achar que somos melhores que eles”.
Para quem está na Índia, eu recomendo: curta o pais o maximo que puder, aprenda com a filosofia de vida deles, entenda a cultura deles, prove a culinária deles, visite os pontos turísticos que eles têm a oferecer e que são muitos, tenha amizade com eles e seja feliz! O resto é resto...

P.S.: As fotos mostradas neste post não são 'paisagens' da Índia, são do Brasil...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Amiguinha

Depois de quase um ano e meio no ICGEB sendo a única brasileira do Instituto, melhor, a única do continente americano, eis que chega ao final do mês de janeiro uma conterrânea. Para minha felicidade, ela veio da minha cidade – Brasília - e de um grupo de pesquisa que eu também já conhecia. A minha carência por ver uma brasileira todos os dias se juntou com o desespero dela em estar numa terra distante e logo ficamos amigas. Nunca imaginei que conversar todos os dias em nosso idioma nativo seria tão prazeroso...
Anne chegou à Índia sem falar muito inglês e nada de hindi. Trancou o curso de graduação em Brasília para vir fazer um treinamento de seis meses no ICGEB. Nunca tinha ido para qualquer outro pais antes de vir pra cá. Então, como brasileira solidária, ajudei-a a encontrar um lugar para morar (hoje somos vizinhas), a pegar oto, comprar comida, enfim, a se virar como todo “firangi”.
Mas não postei este texto para falar de Anne; estou escrevendo para comentar sobre os episódios ocorridos com Anne... (pedi permissão a ela antes de escrever, e ela consentiu... agora Anne, é tarde demais para pensar em dizer não...). Fazia muito tempo que não me divertia tanto com alguém. Anne é uma ótima pessoa, mas a coitada sai de uma mancada para entrar em outra. E eu não agüento, tenho que rir... Vou citar alguns destes episódios:
O nome ‘Anne’ é pronunciado no Brasil do jeito que se escreve, mas aqui as pessoas a chamam como o 'Anne' das americanas, daí soa igual a palavras ‘any’. Pois bem, estávamos um dia a conversar e eu disse a Anne que ela era ‘Incredible Anne’, fazendo um jogo de palavras com o slogan turístico daqui que é ‘Incredible Índia’. Não demorou muito e ela soltou a perola:
- O que é “Anne”?



Acho que ela estava tão acostumada a perguntar sobre palavras em inglês que não conhecia que, nesse momento, não reconheceu nem o próprio nome...
Sei como é difícil estar num pais onde o idioma local não é o nosso, e deve ser mais difícil ainda quando não estamos familiarizados com o novo idioma - nesse caso, o inglês. Anne já disse frases do tipo “I am hot” (eu sou gostosa) quando na verdade queria dizer “I am feeling hot” (eu estou com calor), e outras que não vou comentar, pois o sentido das frases é censurado para menores de 18. Ainda bem essas frases foram ditas para pessoas conhecidas...
Ah sim, fomos para Jaipur. Anne queria porque queria andar de elefante e camelo. Depois de muita, mas muita insistência, ela me convenceu a ir com ela. Montamos no elefante primeiro, demos a voltinha. Depois no camelo. Mais uma voltinha. Não satisfeita, viu uns porcos na rua e me perguntou se poderia montar neles também... (sem comentários)
Essa semana, Anne chegou à minha bancada com o rosto todo vermelho de vergonha dizendo que tinha feito uma besteira. Perguntei o que era, e ela me contou que estava procurando o técnico do laboratório para levar dois potes com água para autoclavar (não explicarei o que é autoclavar, pois não é relevante na estória). Como não o encontrou, foi direto a sala de autoclave para ver se ainda dava tempo de colocar suas amostras na maquina, pois o horário para tal feito já havia passado. Infelizmente, não encontrou ninguém na sala de autoclave. Ainda em sua busca, encontrou uma porta ao lado desta sala, onde a parte inferior era de vidro. Resolveu olhar por este vidro para ver o que havia dentro e descobriu que era o banheiro masculino. Só que no momento em que se abaixou para olhar, descobriu que havia uma pessoa utilizando o banheiro... e era o técnico do laboratório dela. Graças a Deus o cara já estava se vestindo, mas conseguiu pegar Anne olhando pelo vidro... Não preciso explicar mais o porquê de ela ter chegado a minha bancada toda vermelha... E os potes de água não foram autoclavados... O pior é que, no mesmo dia, ela esbarrou no mesmo cara, quase jogando os potes de água nele, e ainda usou (sem saber) os meios de cultura que ele tinha feito para uso próprio. Dias de Murphy...
E eu fico de espectadora, só observando esses momentos... E me divertindo! Mas quem não da suas mancadas, não é mesmo? Ate eu dou as minhas de vez em quando... Mas isso vai ficar para outro post...hehehe

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Dia de beleza

Uma das melhoras coisas que encontrei aqui na Índia foi o bendito salão de beleza. É lógico que aqui isso varia muito, do mais simples – como aquele em que o dono monta o salão embaixo de uma arvore e ali mesmo faz todo o serviço – ao mais luxuoso, onde se serve ate almoço durante os tratamentos. Bom, acho que todo mundo já deve ter uma noção de como são os “salões de beleza” simples; isso a televisão mostra o tempo todo. Mas os salões de gringo mesmo, ah... Esses são de primeiro mundo. E muito melhores do que muitos salões vip no Brasil.
Pois bem, explicarei como funciona: há um salão de beleza aqui que mescla os serviços de salão com os de um SPA, então tudo é voltado para o seu bem-estar, relaxamento, muita massagem e vários, vários tipos de óleos, cremes e esfoliantes. Logicamente, o serviço é mais caro do que qualquer outro salão de Nova Deli, mas comparando-se os preços com os serviços no Brasil, compensa, e muito. Quando se faz manicure e pedicure nesse salão, por exemplo, você não terá somente suas unhas cortadas e esmaltadas, e a cutícula retirada. Você recebe uma esfoliação que vai ate o cotovelo (no caso da manicure) ou ate o joelho (no caso da pedicure), seguida de uma massagem e hidratação. O tratamento das unhas, no final, acaba sendo o menos importante do processo geral manicure/pedicure. Ah! E quem faz a unhas são homens, não mulheres...
Para os cabelos, existe a hidratação habitual de todo salão, com cremes e ampolas de marcas famosas, mas também há o que eles chamam de “head massage”. Nesse tratamento, eles colocam um óleo no couro cabeludo (que pode ser de amêndoas, coco, lavanda, oliva...) e vão massageando a cabeça ate espalhar todo o óleo. Depois de massageada a cabeça e o cabelo, eles massageiam os ombros e pressionam a coluna vertebral em pontos estratégicos que te deixam babando na cadeira, pois o corpo fica completamente relaxado. Se você fizer o kit manicure-pedicure-“head massage” ganha uma massagem no corporal de brinde, pois pernas, braços, cabeça-pescoco e costas saem massageados e relaxados.
Ate mesmo o simples ato de lavar os cabelos no salão é relaxante: a pessoa que lava aproveita a aplicação do condicionador para fazer mais massagem no seu couro cabeludo. Não da pra ficar sem babar... E a escova é super-rapida: em 10 minutos a cabeleireira consegue colocar meu cabelo em ordem, incrível! Sem contar que nem precisa de chapinha para deixá-lo liso-escorrido.
Outra diferença é o modo como eles depilam a sobrancelha. Não é com cera, nem pinça; o método utilizado é uma linha, parecida com as de anzol, que vai sendo passada na região a ser depilada. Em cinco minutos a sombracelha esta limpinha, nem da para acreditar que o processo é tão rápido. E melhor, não dói tanto quanto a cera e a pinça.
Custo total deste pacote de tratamentos (manicure + pedicure + head massage + lavagem de cabelo + escova + depilação da sobrancelha)? Menos de R$ 80,00. Ai se um indiano resolve abrir um salão desses no Brasil...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Com a pulga na cueca...



Sempre me considerei uma pessoa forte, principalmente no sentido “saúde” da palavra. Não sou de pegar gripes com freqüência, muito menos infecções sazonais, intoxicação alimentar, diarréia, etc etc etc. Porem, nos últimos 16 meses já peguei duas infecções “virais” (entre aspas porque nem os médicos estavam certos disso) e uma intoxicação alimentar que me deixaram de cama por bons e longos dias. O pior eh que nunca aconteceu próximo aos dias em que comi comidas sebosas na rua ou fui a mercados populares lotados de pessoas tuberculosas, sujas e mal-cheirosas. O negocio soh acontece quando como comida de hotel 5 estrelas, vou ao Shopping Center, ao cinema, ou fico em casa. Isso me deixou intrigada... Sou a prova viva de que, na Índia, a probabilidade de se encontrar uma bactéria patológica eh a mesma tanto na batata com limão e sal do vendedor da esquina, quanto na batata saute do restaurante italiano grão-fino do centro da cidade. Infecções sazonais não são para a classe pobre da sociedade... bem, pode ate ser, para os nativos... porque para os estrangeiros, não há distinção de raça, nacionalidade, nem salário... as vezes, nem de estação! Sou vacinada contra todos os tipos de doenças possíveis e imagináveis oferecidas no Brasil, mas aqui na Índia sinto-me tão frágil quanto a um bebe recém-nascido.
E ultimamente, evito comer em restaurantes de aparência muito agradável, pois isso indica que o preço do prato eh caro e, consequentemente, a procura eh pequena. Concluindo: a probabilidade de te oferecerem uma comida que esta ‘em banho-maria’ há dias na cozinha do restaurante eh muito maior! Bibocas sebentas as vezes oferecem pratos mais “confiáveis”, já que a rotatividade eh maior, e a comida vem sempre fresquinha (eu quero acreditar que isso eh uma verdade...) Agora, onde o cozinheiro coloca a mão dele entre o preparo de um prato e outro, isso não quero nem saber!
Well, o mais engraçado são as conclusões medicas. Na primeira infecção “viral” que tive, o medico me disse que eu estava com dengue, me passou uns comprimidos para tomar e mandou de volta pra casa:
- Se não melhorar em três dias, volte aqui – disse o tal do medico.
Ta bom, fazer o que? Voltei pra casa... e não eh de ver que três dias depois, la estava eu de volta no consultório dele (obviamente, o remédio não havia dado o efeito desejado):
- A verdade eh que você esta com febre tifóide. Tome estes outros remédios, volte para casa, descanse e, se você não melhorar em três dias, volte ao meu consultório.
O que?! Febre tifóide?! Qual eh?! Como eh que uma dengue se transforma em febre tifóide de uma hora pra outra?! Ok ok, tomarei os remédios... descansarei... te vejo daqui a três dias...
E três dias depois, la estava eu de novo no consultório. Já não sabia mais o que tomar, em quem acreditar, no que fazer:
- Bem, você estava com uma infecção viral. Isso eh infecção comum. Por causa do calor do verão, muita gente pega. Tome estes comprimidos que em dois dias você ficara boa.
... por que ele não tirou essa conclusao logo no primeiro dia em que fui la? Já que a infecção eh freqüente no verão (e estávamos no verão), não era grave e facilmente curável, por que não me ofereceu os benditos comprimidos logo na primeira consulta?! Acho que acabei me curando de raiva, soh para não ter que ir ao consultório dele novamente...
Bom, na segunda vez em que cai de cama, o medico foi mais direto. já foi dizendo de primeira que era infecção viral, me mandou fazer uns exames de sangue para confirmar, e receitou uma cambada de remédios que me curaram em quatro dias. Que tipo de vírus eu tive? Não sei dizer... e creio que nem o medico, pois quando perguntei, ele fez alguns rodeios e não respondeu a pergunta. Mas o que importa eh que estou saudável e curada.
Mas ainda continuo enquasquetada com essas infecções... o jeito eh continuar vivendo minha vidinha de sempre, com a mesma rotina, nos mesmos lugares, as mesmas pessoas... e rezar para que esses vírus mortais e bactérias sanguinolentas mantenham-se longe de mim! Sarava!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Marcas do passado

Estou retornando apos um mes de ferias no Brasil. Um mês onde pude ver novamente um céu azulado, arvores verdes, curtir clube, piscina, tomar banho de sol... hábitos que aqui na Índia são raridades. Eh engraçado como meu ponto de vista mudou para certas coisas: o transito de Brasilia, de repente, não era tão caótico assim. Nem mesmo aquele sentimento de expelir um xingamento bem cabeludo para o motorista apressadinho do lado não fluiu de minha boca. O meu carro estava andando - sem engarrafamentos, sem vaca, sem oto - então nada mais me interessava. As ruas pareciam tão vazias, tão desertas... Nem a multidão que diariamente se vê na rodoviária e no metro conseguiram me abalar. E quando eu via um lugar com gente, logo depois vinha o comentário de alguém: “Aqui esta muito cheio!”, ou “Como o Shopping esta lotado hoje!”... pois eh, na Índia eh impossível ficar soh, mas eu havia esquecido que isso eh possível, e muito possível, no Brasil.
Chuva... como choveu nessa Brasília... e em todo o Brasil! A estação chuvosa em Nova Deli eh durante o verão, mas mesmo assim não chove um terço do que eu vi nesse ultimo mês em Brasília. Meus cabelos ficaram tão macios quanto as peles de carneiros criados pelas freiras cegas do norte da Suíça mas, em compensação, ficaram tão rebeldes quanto os cabelos da Maria Betania em dias de ventania... e da-le escovinha!
Comer com garfo e faca não foi tão estanho assim, alias, eu já estava sentindo falta de usar talheres durante as refeicoes principais do dia. Um mês sem ver minhas mãos amareladas de molho curry foi muito bem vindo! Sem contar na saudade que eu estava de comer pão-de-queijo, pamonha, curau, cuscuz, a típica dupla arroz-com-feijao, coxinha, empadinha, pastel e outras iguarias que não vou descrever, mas que estavam todas deliciosas! Yummy! E a pimentinha deu um descanco ao meu surrado estomago...
Matei saudades de usar blusas de alcinha, shortinhos, biquínis, vestidos acima do joelho... mas, consequentemente, vi expostos gordurinhas, celulites, flacidez que antes estavam camufladas nas roupas mais larginhas, agora duplicavam de tamanho e gravidade nas roupas mais curtinhas... isso eu não gostei... melhor voltar as roupas larginhas...
Casas limpinhas, cheirosinhas, organizadas. Isso eh muuuuuiiiitoooo raro em residências indianas. A não ser que o morador seja gringo, tudo eh uma bagunça mesmo. Alem de a casa ser organizadamente desorganizada, a poeira eh convidado de honra. Rever casas no Brasil foi como estar no Paraíso! Existe vida após a poeira! Acho que fiquei ate relapsa em termos de limpeza, pois enquanto minha mãe se descabelava para limpar a casa achando-a extremamente suja, eu me deliciava de contentamento por ver que os moveis não ficavam cobertos com uma camada de poeira preta...qualquer limpeza mais-ou-menos estava bom, qualquer cantinho menos sujo se tornou apto para sobrevivência. Aff... nem queiram imaginar em que estado encontrei minha casinha na Índia, após um mês de viagem...
Minha casinha já esta razoavelmente limpa agora, minhas mãos já estao amarelas de novo, a pimentinha voltou a surrar o estomago, as roupas larginhas ja escondem as partes “revelantes”, alem da gordurinha. A chuva não castiga mais, ate porque não tem chuva por aqui, e eu continuo não ligando para o transito, por mais caótico que seja...
Ah! Feliz 2009! Onde quer que você esteja...