quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Feriado de Finados para lá de vivo...!

Feriado do dia 02/11 foi um feriado especial.
Especial porque, há um ano, eu nunca cogitaria fazer uma viagem dessas. E vou explicar por quê.
Sou do tipo que gosta de aventura, mas essa aventura tinha suas limitações... tinha...
Também gosto de conforto. Não precisa ser algo luxuoso, mas uma caminha gostosa e quentinha nunca fez mal a ninguém.
Pois bem, essa viagem começou a ser planejada durante uma outra viagem que fiz em setembro para Alto Paraíso de Goiás. Fiz uma trilha de 16km (ida de volta) para um local fantástico, chamado ‘Sertão Zen’. O passeio foi maravilhoso! E conversando com o guia, descobri que existiam várias outras trilhas semelhantes, com paisagens tão bonitas quanto ao Sertão Zen. Pronto! Já foi um motivo para voltar logo.
No meio da conversa, o guia comenta que também participa de um grupo que realiza encontros quinzenais para tomar e usufruir de Ayahuasca. Se fosse há um ano atrás eu diria: “Eu é que não sou louca de experimentar isso! Vai que eu passo mal, acontece algo...”. Mas dessa vez, meu pensamento me levou a dizer: “Quando vai ser o próximo encontro? A gente pode ir?”. E fiquei sabendo que os encontros aconteciam todo primeiro e terceiro sábado do mês.
Então a próxima viagem já estava marcada, com certeza! E que maravilha que havia um feriado próximo ao primeiro sábado de novembro. Data selecionada! Agora só faltava ver hospedagem e o transporte.
Íamos eu e meu namorado. E os dois sem grana para bancar uma viagem de 5 dias na Chapada dos Veadeiros (onde está localizado Alto Paraíso) em pleno feriado prolongado. Resolvemos, então, fazer uma viagem estilo “roots”: iríamos de ônibus até Alto Paraíso e de lá o transporte seria de bicicleta (as bicicletas levamos de Brasília). Assim, cortamos metade da despesa com transporte. Hospedagem? Camping! Compramos uma barraca de R$ 80,00 na promoção das Lojas Americanas e dividimos a perder de vista. Reservamos um Camping localizado entre as cidades de Alto Paraíso e São Jorge (36km de distância entre uma cidade e outra), dessa forma, poderíamos ir de bike por passeios e cachoeiras perto das duas cidades. E para nossa felicidade, encontramos um camping que ficava exatamente no meio do caminho, entre as duas cidades. E cortamos metade das despesas com hospedagem...
Faltando uma semana para a viagem, recebemos a notícia de que o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros sofreu um grave incêndio. Ficamos na dúvida: cancelamos o passeio ou vamos mesmo assim? Ligamos para o guia. Ele nos informou que, apesar da queimada ter destruído cerca de 20% da vegetação do Parque, que o mesmo iria reabrir durante a semana do feriado. Poderíamos ir sem problemas, pois havia começado a chover e as chances de novas queimadas estavam fora de cogitação.
E na quarta-feira do dia 01 de novembro, pegamos nossas mochilas e bikes e fomos para a rodoviária pegar o ônibus para Alto Paraíso. Chegando lá, pedalamos 17 km até o camping. E aí veio a primeira transformação: eu, que dizia que bike não era pra mim, estava iniciando minhas pedaladas numa rodovia cheia de subidas e descidas, por 17km longos quilômetros (para mim foram longuíssimos...), com chuva no meio do caminho, mochila nas costas que começavam a pesar, cabelo desgrenhado, aquela “beleza”...
Quando, enfim, chegamos ao camping, montamos nossa barraca e fomos comprar comida para os dias no local. Só que não havia um mercado sequer por perto. O mais próximo estava a 17km... a dona do camping nos informou, então, que os pedreiros que estavam trabalhando numa obra do local estavam partindo para Alto Paraíso e que poderíamos pegar uma carona com eles até a cidade. E lá fomos nós. E veio a segunda transformação: eu, pegando carona com estranhos, sendo eu a única mulher no carro. Confiei no fato de que meu namorado era o maior do grupo e “Seja o que Deus quiser”. Mas durante o percurso até a cidade, percebi a presença de meus preconceitos dominando meus pensamentos. A carona, na verdade, foi muito agradável! Os pedreiros super gente boa, nos deixaram na porta do supermercado da cidade, pois não queriam que nos molhássemos com a chuva que estava por vir...
Fizemos nossas compras e saímos cheeeeioss de sacolas, com comida para uma tropa! Agora, era a hora de voltar para o Camping. E como voltar? Não havia ônibus de Alto Paraíso para São Jorge. Mas havia um ponto de ônibus no início da estrada para São Jorge que era conhecido como “O Ponto da Carona”. Funciona assim: você vai para o ponto e fica esperando algum carro passar para pedir carona.
O negócio é que já eram 19h e o sol já estava se pondo, e não havia qualquer iluminação no ponto de ônibus ou perto dele. Ou conseguiríamos uma carona rápido, ou teríamos que caminhar os 17km pela rodovia... no escuro. Ok, fomos para o ponto de ônibus. Vários carros passavam por perto da estrada, mas nenhum virava em direção a São Jorge, e os que passavam, diziam estar lotados. Aí veio a terceira transformação: eu, no meu interno, gritava ao mesmo tempo “Socorro!” e “Vamos conseguir!”. Em outros tempos eu já tinha ligado para uma locadora e alugado um carro… Mas não. Fiquei lá sentadinha esperando uma boa alma passar.
Até que um carro passou e gritou: “Baleia! Baleia!”. Ele estava indo em direção ao Morro da Baleia, um dos pontos turísticos da Chapada. Instantaneamente, meu namorado respondeu: “Baleia! Baleia!” (o camping em que estávamos ficava no pé do morro da Baleia). O motorista parou e perguntou: “Estou indo para perto do morro da Baleia. Posso dar carona pra vocês até lá...” Entramos no carro e seguimos viagem. E tive a oportunidade de conhecer mais uma pessoa maravilhosa! O senhor, motorista do carro, nos contou sobre sua paixão pela Chapada dos Veadeiros e sua tristeza por causa das queimadas. Vi nele um adorador da natureza, alguém em quem inspirar... certamente não teria vivido isso se tivesse ido de carro, ou alugado um… em 15 minutos estávamos de volta ao camping.
Pedalando na Chapada
Quinta-feira acordamos cedo. Preparamos o café da manhã, pegamos as bikes e fomos até São Jorge. De lá, buscamos informações sobre passeios e cachoeiras para visitar ali por perto. Escolhemos ir em uma que ficava a 4km de São Jorge, chamada Morada do Sol. É uma cachoeira fora da rota das “famosas” da Chapada. E como já conhecíamos algumas, o que queríamos era justamente visitar as opções alternativas. Chegamos na fazenda onde haviam essas cachoeiras por volta de 12:30h. E aproveitamos bastante! Fizemos trilhas, nadamos nas águas claras dos poços que se formavam ao longo do rio e das quedas d’água. Posso dizer que ‘lavamos a alma’. Quando foi umas 15:30h o céu ficou cinza e uma chuva se anunciava. Resolvemos, então, pegar o caminho de volta. E é lógico que a chuva mal esperou a gente chegar na rodovia para nos alcançar. Voltamos cansados, na chuva, com longas e íngremes subidas pelo caminho, mas chegamos. Eu, exausta, mas satisfeita com o dia!
À noite, durante o jantar, conhecemos novas pessoas que também estavam hospedadas no camping. Compartilhamos a comida, a cachaça, as conversas e fogueira no final da noite.
Na sexta-feira acordei só a capa do Batman. Minhas pernas latejavam. O acúmulo de ácido lático era a prova viva do meu sedentarismo. Cancelamos o passeio de sexta e ficamos no camping comendo, batendo papo e descansado. Sábado iria ter mais...
No sábado decidimos fazer um passeio menos radical. Iríamos pedalar, mas uma distância mais curta, pois no final da tarde pegaríamos a estrada para Alto Paraíso para participar do ritual do Ayhuasca. E a escolha do dia foi subir o morro da Baleia. E subimos. E ao chegar no final da trilha, avistamos o que seria “os fundos” do Jardim de Maytreia. Que paisagem linda! Um espetáculo da natureza todo para nossa contemplação! Fiquei uns bons minutos olhando para aquela mistura de cores verde, laranja, marrom… o único som que ouvia era o dos pássaros que, de vez em quando, atravessavam o cenário. A pequena escalada até o topo do Morro valera a pena.
Jardim de Maytreia
Voltamos para o camping extasiados com o passeio e começamos a desmontar acampamento. E antes das 17h já estávamos na estrada de bike em direção a Alto Paraíso. Próxima etapa: Ayhuasca! Acabamos chegando cedo e ficamos na porta do local esperando por alguém chegar. Até que nosso guia apareceu e nos conduziu para dentro da casa onde tudo ia acontecer…
Uma das primeiras coisas que ouvi antes do ritual foi: “Bem vindo ao resto de suas vidas. Aqui começa uma vida nova”. E realmente começou… O que vivi na noite de sábado para domingo foi algo que transformou o meu interno. A sensação que tive foi longe de uma alucinação ou doping… foi uma consciência elevada. Pude finalmente enxergar a minha grandeza, o meu objetivo de vida, e a minha capacidade de engrandecer os outros e contribuir para a humanidade. Essa foi a transformação maior da viagem! No domingo, no caminho de volta à Brasília, voltei leve e livre de muitos pesos internos. A união de todos os acontecimentos dessa viagem, por mais bobos, simples e até casuais que pareçam, juntos, criaram um momento de transformação.


Se voltarei? Claro! Sempre. Se andarei de bike novamente? Com certeza! Talvez começarei com percursos mais fáceis dessa vez… Se acamparei de novo? Absolutamente. Nada melhor para compartilhar e ouvir compartilhares do que estar num camping. Se participarei de outros eventos de Ayhuasca? Responderei essa pergunta com outra pergunta: Quero continuar experimentando a plenitude da vida?

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

140 anos

Volteeeeiiiii!!!!
Não para a Índia, mas para o blog...
Pois é, depois de quase 4 anos abandonado, resolvei fazer esse blog voltar a ativa. Mas não para escrever sobre minhas aventuras na Índia, mas sim, minhas aventuras da vida. E podem ser de qualquer lugar! Afinal, minha vida de cacheira viajante, de vez em quando, ainda aparece por aí...

Semana passada estive num curso de empreendedorismo e, com o objetivo de todos se conhecerem, cada pessoa se apresentou para os demais respondendo perguntas como "O que eu faço?", "Qual a minha formação?" A última e mais capiciosa das perguntas era "Qual é o seu sonho?", e não me surpreendeu ver que, mesmo as pessoas que responderam "Meu sonho é salvar o mundo", todas tinham, em seu mais íntimo ser, o  desejo de ganhar dinheiro e serem muito ricas.

Contudo, meu sonho, apesar de estranho, diferente e surpreendedor para os espectadores do momento, não foi o de ganhar dinheiro, ser milionária, ter tudo o que a verdinha puder comprar. Foi 'simplesmente' o de viver 140 anos...

Mas esse sonho, essa determinação pessoal, não veio ao acaso... não veio assim, de repente, como um desejo impensado. Na verdade, tenho pensado nisso por muito tempo...

Sempre fui uma pessoa ambiciosa, e analisando agora, vejo que isso surgiu desde a minha infância. Quando eu era criança, não sonhava em ter uma Barbie ou um brinquedo específico (apesar de ser contida nas cartas para o papai Noel), mas sonhava em ter uma mansão contendo todos os brinquedos do mundo que uma criança pudesse ter.

Depois cresci.  Mas não deixei de sonhar alto, apenas mudei meu foco para algo mais 'palpável' (se é que posso assim dizer). Como diria o professor Luiz, pivotei meus objetivos, rs.

Voltando à questão dos 140 anos...

Pensar em ambição geralmente leva ao pensamento no dinheiro. E para que quero ter muito dinheiro? Para comprar algo em específico? Para comprar o que vier na telha? Para viajar o mundo? Para mostrar para todos que posso ter o que eu quiser?

E será que isso resolveria o meu âmago? Será que, quando eu tiver todo esse dinheiro vou finalmente encontrar minha paz espiritual, a minha felicidade?

Bom, eu sempre sonhava em ter muito dinheiro para poder comprar coisas que, num determinado momento eu almejava, ou para viajar a lugares que eu gostaria de conhecer. Mas fui percebendo que, ao longo de minha ainda tão curta vida, eu conseguia realizar meus pequenos sonhos sem precisar ser tão rica assim. Já conheci 11 países (fora o Brasil) sem nunca ter um valor acima de cinco dígitos em minha conta bancária. Tenho casa para morar, carro para dirigir, computador, celular, roupas e todos os outros mequetrefes que a vida feminina e a sociedade democrática e ocidental nos impõe para sermos felizes.

Então, o que me falta para aquietar esse meu coração tão ambicioso por "quero mais"...?

A resposta é simples... falta-me tempo.

Dinheiro é uma coisa que, se eu perco hoje, posso conseguir mais amanhã. Basta eu batalhar para isso. O mesmo vale para qualquer bem material. Hoje em dia até doença a gente consegue reverter (na maioria das vezes). E quantas pessoas não passam anos doentes, mas ativas, lúcidas. Mas o tempo que passa já passou, não volta. Não há dinheiro nem saúde que o compre. Não quero chegar aos 70 anos e achar que a morte possa estar a cada esquina me esperando. Quero chegar aos 70 anos e dizer: "Legal, ainda tenho mais 70 pela frente!"

Com mais tempo consigo ter mais dinheiro, consigo ter mais tempo para gastar esse dinheiro, consigo ter mais conhecimento para curar/tratar doenças, mais conhecimento para aproveitar a vida, para viver o mundo. Isso só o tempo pode me dar...

E com o tempo, terei até tempo para descobrir se é isso mesmo que me fará sentir realizada e feliz. Vai que lá na frente eu descubro que não é, e vejo que não terei tempo para repensar meus planos?!

É por isso que eu quero tempo... nada mais... só isso...