quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Lavar roupa todo dia, que agonia...

Lavar roupas nunca foi meu forte e, quando vim para a India nao iria ser diferente. Mas aqui, maquina de lavar eh objeto raro e caro de consumo, e a maioria das pessoas manda suas roupas para lavar fora. Soh que o “lavar fora” nao eh uma loja “dry cleaner” (apesar de existir por aqui), mas sim, pessoas que pegam sua roupa, lavam em suas casas e depois te devolvem. Eh como nos velhos tempos em que se viam mulheres lavando roupas a beira dos rios, lagos, etc.
Logo que cheguei em Delhi, contratei uma empregada que, alem de limpar a casa, lavava minhas roupas... e na minha propria casa. Eu soh teria que comprar sabao em po e amaciante, que o resto do servico ela faria.
*Nota: aqui eh raro encontrar esses tipos de empregada. Normalmente, os servicos domesticos sao divididos em quatro categorias: as pessoas que limpam a casa, as que cozinham, as que lavam e passam roupas e as que limpas os banheiros. Devido ao sistema de castas, eh muito dificil encontrar uma empregada que se disponha a fazer duas funcoes, como a que eu encontrei. Achar uma que limpe a casa e o banheiro entao... impossivel...
A tecnica de lavar roupas aqui tambem eh muito diferente, principalmente se quem lava eh a empregada domestica: a minha, pelo menos, nao conhecia nem sabao em po, nem amaciante, lavava tudo apenas com sabao em pedra... imagine como as roupas nao ficavam depois de secarem... Com muito custo, consegui introduzir o sabao em po, que ela gostou e adotou como produto de lavagem. Mas o amaciante... nao houve argumentos que a convencesse a utiliza-lo e deixar minhas roupas mais fofinhas. Outra diferenca eh o modo como elas lavam: ao contrario de nos, meros mortais do mundo ocidental, que esfregamos as roupas com as maos para eliminar sujeira e mal-cheiro, aqui a roupa eh espancada ate a “morte”, ou melhor dizendo, ate o seu fim cruel. Sim, literalmente, as mulheres espancam a roupa. Elas batem a roupa incessantemente no chao ate que a coitada fique completamente inutilizada. Depois enxaguam e colocam no varal para secar. Confesso que perdi muitas das minhas roupas devido a esse macabro ritual que as lavadeiras utilizam. Na verdade, durante o ultimo ano, praticamente mudei meu guarda-roupa por completo, da meia ao agasalho. Nada escapa... nadinha... Sem contar que, de vez em quando, uma camiseta ou calca branca aparecia com uma bela mancha cor-de-rosa ou azul, justamente porque a empregada tambem nao sabia que pecas brancas nao devem ser colocadas junto com as coloridas...e o pior eh que nem adiantava discutir, ela lava assim desde que colocou a mao na massa pela primeira vez aos 15 anos de idade, como eh que eu tenho a audacia de dizer que nao eh assim que funciona...?!
Depois de tantos desalentos e varias roupas manchadas e perdidas, aprendi a licao: passei a mandar roupa para lavar fora (no “lavar fora” ja descrito anteriormente). Nao quero nem imaginar como eles lavam minhas roupas, mas pelo menos as recebo limpinhas (muito mais limpinhas do que antes), macias e cheirosinhas. E o melhor, passadas! As roupas brancas que antes ficavam amarelas depois de lavadas, agora voltam brancas... nao tao brancas como o branco original, mas dah para identificar que a cor eh branco... ah! e sem manchas cor-de-rosa. E as roupas coloridas ja voltam mais bonitinhas, principalmente as novas, que antes se acabavam na primeira lavada, agora podem ser utilizadas mais vezes antes de serem descartadas.
Acho que se eu fizesse um calculo do tanto que ja gastei comprando roupas novas para substituir as chacinadas pelas lavagens daria para comprar uma maquina de lavar novinha... mas isso eu tambem nao quero nem saber...pelo menos assim ando sempre na moda! :)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fotos - parte II

Como eu havia falado, ahi vao mais fotinhas, desta vez coloquei de pontos turistico daqui de Nova Deli.Dilli haat (feira de produtos artesanais)

Red Fort

Old Fort

Essa eh a que eu mais gosto: no Qtub Minar dando comida para os esquilinhos...


Qtub Minar

Qtub Minar


Lotus Temple


Railway Museum

Palacio do Presidente


India Gate


Holi
Conhecido como "Festa das cores", neste festival todo mundo fica sujinho (colorido, melhor dizendo). E essa foto nos tiramos no inicio da festa...

Lodhi Garden

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Fotos

Tenho recebido varios pedidos para colocar fotos de lugares da India no blog. Atendendo a demanda, vou deixar este Post somente com fotos dos lugares que ja fui por aqui. Como sao muitas fotos, vou dividir em duas partes.

Divirtam-se!




Taj Mahal - Agra



Golden Temple - Amritsar



Veja ao fundo os fieis tomando banho no lago do Golden Templo


Jallian Wala Bagh - Amritsar

Parque e memorial onde cerca de 2000 indianos foram mortos pelos britanicos durante a luta pela independencia



Primeira vez que fiz Mehendi (desenhos feitos nas maos com henna - tambem podem ser feitos nos pes)



Casamento indiano
Os noivos estao no centro da foto, com ornamentos da cabeca e rosto
(e eu no canto direito da foto...)



Templo de Hanuman - Dharamshala


Linda paisagem de Dharamshala
(cidade onde vive o Dalai Lama)



Dentro do Templo Budista - Dharamshala
Os pergaminhos na estante tem mais de mil anos!
O templo fica dentro do complexo onde vive o Dalai


Ainda no complexo...
Esses cilindros contem mantras escritos neles. Basta roda-los e sera como se voce estivesse pronunciando os mantras...


Montanhas do Himalaia - Manali
(Nem estava tao frio assim, rsrs...)

Hidimba Devi Temple - Manali
Construido em 1553

Gurudwara - Manikaran
Templo Sikr


Por-do-sol em Goa
Praia de Candolim


Praia de Candolim - Goa
Encontrarmos, no meio do caminho, uma bandeira do Brasil!





segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Meia Maratona

Meu desafio do mes foi: correr a Meia Maratona de Nova Deli sem precisar de ambulancia, assistencia da equipe de primeiros-socorros ou qualquer outra ajuda que nao fosse os meus proprios pes. E por incrivel que pareca eu... consegui!
Tudo comecou no mes de setembro, quando me inscrevi para um treinamento oferecido pela Reebok a preparar atletas de fim-de-semana (como eu) a correr os 21km do percurso. Seriam 30 sessoes de 1 hora e meia - das 6:00h as 7:30h - durante tres dias por semana. Em finais do verao, acordar as 5 da matina era ate confortavel. Eu aproveitava a brisa da manha, comprava o leite fresquinho na volta do treino e ainda chegava no horario certo para a labuta diaria no laboratorio. Mas sonho de pobre dura pouco... o inverno chegou devagarinho e a brisa agradavel da manha foi virando geada “gripal” da madrugada. A vontade de acordar as 5:00h tres vezes por semana foi se transformando em Missao Impossivel. Era preciso toda uma equipe de resgate para me fazer sair da cama (muito quentinha, por sinal...). Sem contar que, com o frio que estava fazendo, foi ficando cada vez mais dificil de correr sem produzir aquela respiracao de asmatico – “hiiiiii....hiiiii” - ate transpirar ficava dificil, meu corpo nao esquentava o suficiente para sair uma gotinha de suor sequer. Mas nao desisti; apesar de ter que me chicotear todas as manhas para ir ao treino, eu ia. Mas foi compensador, pois fui percebendo que minha resistencia aumentava e, aos poucos, conseguia correr mais e mais.
Enfim, chegou o grande dia! Eu, de roupinha nova (mas com o tenis velho, pois foi com muito custo que consegui amacia-lo para a corrida), fui toda feliz para o local de inicio da Maratona. Para variar, a corrida estava marcada para as 7:30 em pleno domingo, mas tudo bem... mais um sacrificio para a realizacao do meu tao sonhado desafio.
Ao chegar no ponto de largada, vi que todas as corridas sao iguais, independente do lugar: na frente, vao os atletas profissionais e atras, vai o resto. E de resto, pode-se considerar nos atletas de fim-de-semana, equipes de torcida e animacao de festas, bandinhas,pessoas fantasiadas, grupos com faixas de “Alo mamae”, protestos, propagandas e o que mais a imaginacao criar. Os “atletas” da corrida de Sao Silvestre viram profissionais quando comparados ao bandole que eh a Meia Maratona de Delhi.
Dado o grito de largada, ve-se aquela multidao animada, correndo com a garra de um vencedor, sorrindo para as cameras e acenando para os amigos e familiares que estao observando a corrida do lado da calcada. A cada 3 km havia um estande oferecendo agua aos atletas, bem como uma equipe dancando coreografias aerobicas com pompons, a fim de incentivar os corredores. O animo eh geral... ate o kilometro 5... quando os primeiros atletas profissionais comecam a apontar no caminho de volta – a apenas 30 minutos de corrida – ve-se uma mistura de desapontamento com espirito esportivo de incentivo. Ainda estamos a menos de um quarto do percurso e esses caras ja estao voltando! Alguns aplaudem, gritam “Parabens!”, mas a maioria ja pensa em desistir e comeca a caminhar...
Eu, no meu trote*, aproveito o embalo de desanimo geral dos “atletas” e tento ultrapassar o maior numero de pessoas possivel. Mas, a quantidade de obstaculos parece interminavel: quando penso que a muvuca ja passou, aparece uma equipe com cerca de 100 bombeiros que bloqueia qualquer espaco disponivel para ultrapassagem. Alem de ficar impossibilitada de continuar a corrida no meu trote, ainda tenho que ouvir a tipica cancao militar para corridas: “Um, dois, tres, quatro! Quatro, tres, dois, um!”. O jeito foi apelar e forcar uma ultrapassagem pela calcada...
10 km... eu estava bem perto do India Gate (o trajeto saia do Nehru Park em direcao ao India Gate, dava a volta ate o Parlamento e depois voltava ao Nehru Park). A vontade de parar e andar um pouco foi tomando conta do meu pensamento... e das minhas pernas tambem. Resolvi caminhar... Aaaahhhhh!!! Que sensacao horrorosa! Eu nao estava sentindo as minhas pernas!! O jeito foi continuar trotando novamente, as pernas iriam doer, mas era melhor do que tentar voltar a andar...
15 kilometros haviam se passado e eu ja sonhava com o ponto de chegada. Nessa altura do campeonato, 90% dos “atletas” ja estavam caminhando ou haviam desistido definitivamente da corrida. Resolvi fixar o slogan da Maratona** em minha mente e fazer com que meu psicologico pensasse que tudo era diversao. “Joy...joy...”, eu pensava. Onde esta essa satisfacao que nao aparece?!
18 kilometros... chegava a ser hilario, senao tragico, ver a equipe, que antes apresentava coreografias aerobicas com seus pompons para animar os corredores, mostrar-se desconsolada e sem energia para continuar animando os desanimados... deu ate vontade de chorar...
Ja havia corrido 18 km... eu tinha que correr mais 3! O mantra “joy...joy...” nao estava funcionando muito bem, entao resolvi partir para a agressao: desisti do trote e acelerei o maximo que pude. Nao sabia se ficaria paraplegica no final da corrida, se um pedaco das pernas ficaria no meio do percurso, mas com todas as forcas poderosas desse universo, eu queria ver o ponto de chegada!!! 19km.... 20km... 20.5km... cade o ponto de chegada?! Sera que eu virei para o lado errado na rotatoria e estou correndo o trajeto contrario?! Nao, nao, eu estava perto. E duas horas e meia depois do inicio da corrida, pude ouvir os gritos da multidao que esperava os restos mortais do povao que se acotovelava para tentar chegar na reta final.
Foi um momento glorioso: me vi em camera lenta cruzando a linha de chegada. Flores sendo jogadas no chao para mim, a torcida dizendo “Eh campea!”, a equipe tecnica me pegando nos bracos e trazendo agua, toalhinha, relaxante muscular... que me dera... Quando atravessei a linha de chegada, ainda tive que percorrer mais uns 200 metros, ou seria pisoteada pela turba desesperada que vinha atras de mim. Terminar o percurso nao era soh uma meta minha, mas de pelos 20.000 pessoas que tambem participaram da corrida. Mas mesmo assim foi glorioso. Melhor do que bater um recorde mundial, foi bater meu recorde pessoal.
Maratona terminada, fui ao espaco de recepcao dos atletas. La recebi medalhinha, certificado, lanche e havia ate dois carinhas segurando placas com os dizeres “Free hugs” para os atletas desconsolados que nao tinham ninguem para abracar no final da corrida...
Cheguei em casa mais do que exausta, as pernas meio atrofiadas, roupa suja e suada, mas com o ego e a satisfacao no alto! Valeu, Delhi!

*Trote = corrida em velocidade minima, quase andando, mas nao completamente andando...
**Slogan da Maratona:”Remember the joy of running” (lembre-se da satisfacao em correr). A Airtel, companhia patrocinadora da Maratona, apresentava uma propaganda em que chamava os atletas a relembrar os tempos de crianca, quando se corria sem nenhuma razao, e convidar todos a correr mais uma vez.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Halloween

O que eh Globalizacao? Eh um egipcio e uma brasileira, empregados de uma Instituicao Italiana localizada na India, conversando sobre o significado do Halloween, festival de origem irlandesa, que hoje eh principalmente celebrado nos Estados Unidos (heinn??!!)... Pois eh, por incrivel que pareca, fui entender as origens do Halloween atraves de um colega de bancada que, por sinal, eh egipcio e nem celebra esse dia em seu pais.
Como achei muito interessante o assunto, resolvi postar aqui. Resumindo:
O Halloween eh, na verdade, uma mistura de rituais e festividades que, atualmente, tomou uma forma bem diferente se suas origens. Varias teorias explicam a origem do Halloween, mas a mais seguida eh a de que veio do festival de Samhain, celebrado pelos celtas, que habitavam a regiao da Gra-Bretanha ha mais de 1200 anos. Acredita-se que o Samhain era celebrado no inicio do mes de novembro, a meio caminho entre o equinócio de verão e o solstício de inverno, e dava inicio ao ano novo Celta. Esse festival durava uma semana, sendo a “Festa dos Mortos” a mais importante. Nesse dia, os espiritos dos mortos voltavam para visitar a casa de seus familiares, dando boas noticias sobre o outro lado da vida, uma vez que, para eles, a vida apos a morte era cheia de felicidade. No entanto, com a invasao dos cristaos, o druidismo (como era chamada a religiao dos Celtas) foi sendo extinta e o festival foi tomando outras formas e diferentes significados ao longo do tempo.
Todavia, dentro da religiao crista, surgiu a festa de “Todos os Santos”, provindo da festa de “Todos os Martires”, termo criado durante o seculo IV e mudado para o dia 1 de novembro pelo Papa Gregorio III no seculo VIII (antes era celebrado no dia 13 de maio). Essa festa tinha como objetivo honrar “Todos os Santos” e era celebrada com vigilias e preces. A palavra “Halloween” pode ter vindo, entao, do termo “All Hallow’s Eve” (Vespera de toda a consagracao, santificacao).
Assim, a historia conta que os dias de comemoracao da Festa de Todos os Santos teriam sido transferidos para o final do mes de outubro e inicio do mes de novembro com o fim de acabar com os rituais pagaos do Samhain e introduzir um festival cristao na mesma data. Alem disso, durante a mesma epoca, o druidismo era considerado heresia e, seus seguidores, bruxos. Por isso, nessa epoca, quem seguisse as tradicoes pagas era queimado na fogueira ou julgado pelo Tribunal do Santo Oficio (se tivesse sorte). Dai a alusao as bruxas e aos mortos no Halloween que vemos hoje.


Depois da fantastica aula sobre o Halloween dada pelo meu colega, fiquei imaginando o quanto sabemos pouco sobre a origem dos dias festivos que celebramos ao longo do ano. Aqui na India, todos sabem pelo menos o significado das datas mais importantes, bem como os rituais e as historias por detras de suas festividades. Portanto, resolvi tentar descobrir mais sobre os dias festivos do Brasil, pois atualmente, estou sabendo muito mais sobre a cultura estrangeira do que sobre a do meu proprio pais... e isso me faz sentir envergonhada por nao ser capaz de dar uma mesma explicacao sobre qualquer feriado nacional...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Volta as aulas

13 meses
...como assim, 13 meses?!

Sim, 13 meses. Minha estada foi adiada, mas nao se preocupem: em dezembro Patricia estara de volta em terras brasilis. Por enquanto, vamos ficando nos relatorios...
Bem, ja que estou aqui na India, tive que comecar a aprender o basico da lingua nativa: o hindi. Com o ingles eh possivel sobreviver, mas saber hindi eh essencial para certas operacoes basicas, como negociar precos, perguntar onde fica algum lugar (e entender a resposta), saber ler placas de sinalizacao (pois algumas nao sao dadas em ingles), etc e tal. Entao, a primeira medida foi ir a uma livraria e comprar um livro “hindi para iniciantes”, acompanhado de dvd interativo e caderninho de anotacoes. Fui toda alegrinha para casa, feliz da vida, me sentindo no primeiro dia de aula do colegial, com o material escolar novinho e merenda na mochila.
Tudo ilusao... Confesso que, na primeira licao, ou melhor, na primeira frase da licao 1, pensei em desistir. A disposicao gramatical das palavras eh completamente diferente do portugues... primeiro vem o sujeito, depois o complemento, depois os adverbios... e depois de tudo, la bem no finalzinho, vem o verbo... (???), ou seja, a tipica frase “The book is on the table”, em hindi, ficaria mais ou menos “the book the table on is”… Nao ha professor de cursinho capaz de criar macetes ou musiquinhas que facilitem a memorizacao de tal idioma... contudo, o objetivo ja estava decidido: ou eu aprendo hindi, ou nao me chamo Patricia!

Depois de ler a licao 1 durante tres meses consecutivos, consegui ter uma breve nocao da sintaxe e gramatica do hindi... demorou, mas dei conta...
Parte dois: aprender a escrita. Pior do que entender a lingua, eh tentar ler o que esta escrito em Devanāgarī (como se chama o nome da escrita). Como o alfabeto deles eh baseado no som das palavras e nao, em silabas (como eh o nosso caso), cada som tem um simbolo diferente. E cada simbolo, uma obra de Picasso a ser desenhada. Me senti lendo palavras em japones, pois sao tantos desenhos e formas diferentes para se decorar, que parece mais aula de artes plasticas do que de idiomas... Por incrivel que pareca, ate que essa parte foi rapida (comparada a licao 1 do meu livrinho...). Em um mes ja tinha decorado boa parte dos simbolos mais usuais (pois alguns soh sao usados na escrita formal). Hoje, quando saio as ruas, pareco menino de primeira serie que acabou de aprender o alfabeto: fico tentando ler tudo quanto eh placa e cartaz que me aparece na frente... Aaa – veee - niii – daaa
Enfim, depois de algum esforco, consegui aprender o basico para a sobrevivencia... ufa! Agora ja consigo ate discutir preco com os motoristas de oto, hehehe. Mas o mais interessante nao foi aprender o idioma, mas comparar algumas palavras que, no portugues, teria um significado completamente diferente. Por isso, a titulo de curiosidade, descrevo abaixo algumas dessa palavras:
- Keila = quem nao conhece alguem no Brasil com esse nome? Pois eh, aqui na India, keila eh banana...
- Perla (pehla) = outro nome proprio no Brasil que, aqui significa ‘primeiro (a)’.
- Dedo = se alguem disser essa palavra a voce, eh porque quer algo. O verbo ‘deda’ significa “dar”, entao ‘dedo’ eh “da-me” (ou no popular: me da!).
- Alho = calma, aqui nao tem nada a ver com comida. Muito pelo contrario, se alguem disser ‘alho’ para voce eh porque quer que voce “olhe” para algum lugar...
- Andar = em hindi, essa palavra tem a primeira silaba como a mais forte. Dizemos aannndar, ao inves de andaaar. Andar significa ‘dentro/do lado de dentro’.
- Azar (hazar) = azar aqui da sorte. Essa palavra eh referente ao numero ‘mil’.
- Sal = novamente, nada de comida. Sal significa ‘ano’; um sal, um ano...
- Detalhe (detalye) = a expressao que usamos “toca aqui” para duas pessoas baterem as maos, em hindi, eh... detalhe!
- Mata = Se pronuncia da mesma forma que o portugues, mas por incrivel que pareca, essa palavra significa ‘ mae’.
*Pequena observacao:’mata’ eh mae; ‘pita’ eh pai; adivinha como eh pais...? ‘Mata-pita’!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Retrospectiva

Diario de bordo: outubro de 2008.
Um ano! Puxa, como passa rapido... parece que foi ontem quando cheguei no aeroporto de Nova Deli toda perdida para recuperar minha bagagem e tentando encontrar o motorista que iria me levar ate o ICGEB. Quando sai da porta de desembarque, lembro que me deparei com uma multidao que se atropelava para mostrar, cada um, a sua plaquinha que indicava o nome de um “gringo” ou empresa de turismo. A cena, sem brincadeira, era assustadora... me senti num filme de terror. E, naquele sufoco, tive que passar duas ou tres vezes pelo corredor polones de plaquinhas (empurrando um carrinho com duas grandes e pesadas malas, diga-se de passagem) ate encontrar o meu nome... “Petricia Pellegrini”, soh pode ser eu! Meu primeiro impulso foi pular no pescoco do rapaz que segurava a plaquinha com meu nome e gritar “Me tira daqui!”, mas o instinto fugitivo foi logo repelido, pois o rapaz era tao magrelinho e raquitico que, se eu pulasse, iria quebra-lo em pequenos ossinhos magricelas. E realmente, alem de magricela, ele era fraquinho... mal conseguia levar a minha bagagem ate o carro (isso porque tinha rodinhas...). Eu mesma tive que tomar a iniciativa de leva-las, senao ele morreria no meio do caminho. E como ele tambem era o motorista, nao poderia deixa-lo morrer, afinal, ja era meia-noite e, alem de cansada e com fome, eu estava doida por um banho. Quando chegamos ao carro, foi a gloria! Malas para dentro, Patricia para dentro e vamos embora! Nao sei qual o nivel das aulas de geografia aqui na India, mas o motorista, de repente, comecou a puxar papo comigo em hindi... depois de 15 minutos falando “I dont speak hindi”, ele entendeu que deveria mudar de idioma, ou a conversa nao iria para frente... se eh que havia alguma conversa ate o momento. Mas nao adiantou muito... utilizando o ingles mais macarronico que ja presenciei em minha vida, plus advanced sutaque tipicamente indiano,o motorista comecou a me fazer perguntas uma atras da outra, mas a unica coisa que consegui entender foi “ICGEB”... “Yes, ICGEB!”, respondi. Ufa, pelo menos ele esta me levando para o lugar certo...
E doze meses depois, ja estou craque no ingles indiano. Alem de entender e saber interpretar cada palavra em ingles que eles falam (que eh bem diferente do ingles falado em qualquer outra parte do planeta), ja sou capaz de pronunciar as palavrar com uma fluencia tipica indiana! Sim, pois o ingles daqui eh uma mistura de hindi, ingles, e algumas travadas na lingua que, ao final, vira um idioma completamente diferente. Precisarei de um curso intensivo de ingles nos Estados Unidos quando eu for embora da India, para poder adquirir o ingles propriamente dito... novamente...
Eh... doze meses que mudaram muito a minha vida... muito habitos tiveram que ser mudados, alguns comportamentos modificados, mas tudo foi aprendizado. E melhor, terei muitas, muitas boas lembrancas guardadas, muitas estorias para contar, muitos momentos que estarao presentes para sempre no meu dia-a-dia. Assim, posso dizer que aprendi muitas coisas,dentre elas:
- Aprendi a comer com as maos, sem que isso fosse uma atitude anti-higienica;
- aprendi que comida apimentada por ser uma delicia, especialmente quando se esta comendo com as maos;
P.S.: lave bastante as maos, caso queira ir ao banheiro ou cocar o olho durante a refeicao...
- aprendi a tomar banho de balde, e a economizar agua (ja que a agua nao fica jorrando do choveiro durante o tempo todo do banho); aprendi que, as vezes a agua pode acabar quando estamos completamente ensaboados, e que isso nao eh bom...
- aprendi que nao existem posses, o que eh meu eh seu, o que eh seu eh meu e, o que eh nosso eh de todo mundo!
- aprendi que nunca se esta soh quando se esta na India. Havera sempre alguem para te ajudar, e melhor, sem pedir nada em troca, alem do “Obrigado”;
P.S.: e sempre havera alguem para saber da sua vida, o que voce faz, com quem faz, para onde vai, de onde vem, simplesmente pelo prazer de... fofocar...!
- aprendi que, quando se faz alguma coisa errada no trabalho, deve-se pagar uma prenda dando festas para o pessoal da equipe. E, quando se faz alguma coisa certa no trabalho, deve-se comemorar dando festas para todos;
- aprendi que eh possivel viver feliz e em paz consigo mesmo sem gastar tanto e sem ganhar tanto. Pode-se ser muito mais feliz quando se ganha mais, mas nunca quando se gasta mais...
- aprendi que a solidao pode ser um otimo remedio para tomada de decisoes e solucao de problemas, para conhecimento do proprio eu, para crescimento pessoal e, principalmente, quando se quer comer uma panelada de brigadeiro sem ninguem por perto...
- aprendi que viver em outros paises, principalmente quando a cultura e o estilo de vida sao muito diferentes do pais de origem, eh uma excelente experiencia para quem quer crescer espiritualmente, emocionalmente, profissionalmente e, acima de tudo, como ser humano.

Bom, acho que deu para aprender algumas coisinhas, ne?



Quer pagar quanto?!

Diario de bordo: setembro de 2008.

Bom, tem um assunto que eu pretendia escrever ja tem um tempo, mas soh agora juntei informacoes suficientes para descrever aqui. Sao sobre os produtos eletroeletronicos produzidos e vendidos na India. E agora, depois de tantas experiencias, vale a pena contar um pouquinho. Desde que cheguei aqui ja tive que comprar dois aquecedores, dois liquidificadores, ja troquei o ventilador de teto, arrumei o ar condicionado e, no momento, meu ferro esta com um ligeiro defeito... depois de tudo isso, cheguei a conclusao de que talvez, assim, quem sabe, os eletroeletronicos na India nao sejam de tao boa qualidade (ou entao os equipamentos nao gostam de mim... :P)...
Pelo menos tudo o que eu comprei de marca nacional, acabei tendo que trocar por outro de marca conhecida (deve ser porque aqui nao tem Brastemp...). Explicarei produto por produto, assim fica mais facil:
Logo que me mudei para o meu apartamentinho, comecei a mobilia-lo de maneira que eu tivesse tudo, mas ao mesmo tempo, que nao gastasse muito. Entao, a solucao foi comecar comprando coisas mais baratas, ja que seria apenas para durar por pouco tempo. Apesar de que nao esperava que fosse durar tao pouco assim... O primeiro foi o liquidificador. Como sabia que nao iria cozinhar muito, comprei um liquificador de marca nacional, o mais barato que tinha na loja, soh para o intuito de fazer vitaminas e sucos. Ate que era bonitinho, vinha com tres jarras de tamanhos diferentes, de aluminio, e o motor vinha na cor creme com vermelho. Iria quebrar um bom galho... e quebrou.... literalmente... Ta, ate que ele durou bastante, uns tres meses, e enfim, no quarto mes de uso, a helice do motor resolver se soltar e minha vitamina vasou liquidificador abaixo... Utilizando minha tecnica Tabajara de reconstituicao de liquidificadores, dei um jeito de re-ajustar a helice e continuei utilizando-o normalmente. Mas o fim estava proximo... para ajustar a jarra no motor, era preciso encaixar o copo e dar uma giradinha para a direita. E para retirar, era soh fazer o caminho inverso: dar a giradinha para a esquerda e puxar o copo. Mas numa bela manha de sol, apos preparar uma vitamina feliz e contente, fui retirar a jarra do motor... giradinha... nada... puxo o copo para sair... nada... outra giradinha... snif...o copo nao sai.... ate que resolvi aceitar o fato de que a vitamina devia ter virado uma argamassa no fundo da jarra (ja com a helice em condicoes instaveis), que colou no motor, formando uma super-ultra-hiper-potente cola, impossivel de ser solta por qualquer ser humano... Resultado: jarra (copo) e motor para o lixo (detalhe: a jarra foi suja de vitamina recem-preparada...) e vamos para a loja comprar outro. Assim, ja consciente das possiveis complicacoes enfretadas com produtos nacionais, resolvo comprar um liquidificador Walita. Nao era dos melhores da loja, mas desta vez tambem nao foi dos mais baratos. Esse ate hoje esta em funcionamento.. ufa...

Capitulo dois: o aquecedor.

Em meados dos mes de novembro, pouco antes do inverno chegar, decido comprar um aquecedor, ja que em dezembro a temperatura iria cair bastante e, para nao ficar desprevinida, resolvo compra-lo o quanto antes. Infelizmente, utilizo o mesmo sistema do liquidificador: acabo comprando o mais barato da loja; de marca nacional, claro. Mas ele era bem simpatico: branquinho, pequeno, com cobertura de borracha, nem parecia um aquecedor de tao bonitinho. Mas beleza exterior nao conta nem para eletroeletronicos: na primeira semana de uso, o fusivel queima e tenho que voltar na loja para trocar. O vendedor, todo prestativo, enviar o aquecedor para a fabrica e, uma semana depois, me devolve com tudo consertado. Volto para casa (sempre feliz e contente!) na esperanca de re-estrear o aquecedor. Mas inteligencia de jumento dura pouco: como eh que eu fui comprar um aquecedor com cobertura de borracha?!! Eh logico que, na primeira super-aquecida do coitado, a borracha foi queimando junto com o aquecedor e, no final de meia-hora do aparelho ligado, meu quarto parecia um deposito de pneu queimado... sem contar na fumana que foi se formando... Saldo do dia: aquecedor queimado, quarto esfumacado e, principalmente, frio, pois tive que abrir portas e janelas para areja-lo, levando todas as esperancas de uma noite quentinha de sono... Refaco minha peregrinacao a loja para comprar outro aquecedor. Desta vez, compro o segundo mais barato (sou mesmo insistente com esse tipo de coisa...), com formato de radio dos anos 20, feio, cinza, mas... funciona! Os meses de inverno passam sem preocupacao e meu aquecedor se mante firme e forte... ate hoje.

Capitulo tres: o ventilador.

Saimos do inverno e, em menos de um mes, estavamos num calor escaldante... incrivel como a temperatura daqui muda bruscamente. Entao, nada mais justo do que comecar ligando o ventilador. Quando esquentasse mais, eu ligaria o ar condicionado. O ventilador comecou funcionando muito bem. Passei ate a dormir com ele ligado, nao dava nenhum problema. Soh que as vezes sou obrigada a lembrar que estou na India, e aqui, durante os meses de verao, sofremos com as infernais quedas de energia. E numa dessas quedas, o ventilador foi e nao voltou mais... pobre ventilador, tao bonzinho, e desta vez nem foi tanta culpa dele assim... Como eu precisaria mandar alguem instalar outro ventilador (pois isso nao esta incluso no meu curso Tabajara), chamei a dona do apartamento que, em tres dias, mandou um tecnico para instalar um ventilador novo. Tres dias de sofrimento que me fizeram ligar o ar condicionado. Ainda bem que liguei logo, porque se fosse esperar a necessidade para bota-lo para funcionar, eu estaria perdida...

Capitulo quatro: o ar condicionado.



Jeca que eh jeca tem que aprender a mexer em qualquer aparelho no dedo, nada de olhar no manual de instrucoes!... Eu nunca tive ar condicionado em casa, o meu daqui foi o primeiro. Recem-instalado, ficou na parede quase dois meses antes que eu apertasse qualquer botao. E como nao sabia que botao apertar primeiro, fui apertando todos os “ON” que vi pelo caminho. Resultado: primeiro veio um ruido, depois um barulho igual a motor de caminhao e, por fim, a explosao.... bum!.... e meu ar condicionado morre no mesmo dia em que da as primeiras baforadas geladas. E quase que me leva junto: o barulho foi tao assustador que pensei que havia uma granada explodindo dentro do ar condicionado... pelo menos o tecnico aproveitou a visita para instalar o ventilador e tambem consertou o ar condicionado. Sim, consertou, porque era Samsung. Se fosse da marca “Aladim” ja teria ido para o brejo e eu teria que desembolsar 35000 rupias para comprar um novo... ja o primeiro ventilador era da marca “Aladim”...

Ultimo capitulo: o ferro de passar roupas.

Posso ser pao-dura, mas na hora de comprar o ferro de passar roupas nao economizei. Sou pessima para passar roupas, apesar de gostar da funcao, entao o jeito era comprar um super-ferro, daqueles que vem com diferentes opcoes de temperatura, lugar de colocar aguinha para selecionar se a passada vai ser “a seco” ou “a vapor”, luzinha que acende quando a temperatura esta mais quente que o ideal, enfim, tinha que ser um ferro foda. E o meu foi, soh faltou a opcao de servir cafezinho. E melhor, era rosa! (:D). Consegui passar roupas por 10 meses sem nenhum problema. As roupas podiam nao ficar tao bem passadinhas, mas o ferro continuava la, firme e forte. Ate que numa outra bela manha de sol... fui passar roupas assistindo ao “bendito” jogo de futebol do Brasil contra a Argentina na semi-final das Olimpiadas. Era um raro momento em que a televisao indiana mostrava um jogo do Brasil e eu nao podia perde-lo por nada nesse mundo! Entao juntei o util ao agradavel: como tinha muita roupa para passar, resolvi colocar a tabua na frente da tv e ir acompanhando o jogo enquanto ia passando. E foi soh o que precisou, um gol da argentina, e meu ferro pulou da tabua para o chao, queimando dedo, mao, quase meu pe, e deixando rolar para o lado o botao que regulava a temperatura... os fisicos que me expliquem, mas o ferro caiu com a parte quente para baixo, me queimou toda, e ainda conseguiu arrebentar esse botao que ficava na parte de cima, protegido ainda pela alca que usamos para segura-lo...e o botao ainda me fez o favor de se quebrar em quatro pedacinhos, pode?... aaaaaaahhhhhh!!!!!!! E mais uma vez, minha tecnica “Tabajara consertator” teve que ser posta em pratica. Ajustei o botao de volta no ferro e, apesar de nao saber mais a que temperatura o ferro se encontra, pelo menos consigo saber se ele esta ligado ou nao. Comprar outro? Nao sei. Se o melhor ferro da loja me decepcionou assim, quem dira o mais baratinho...

Nos picos do Himalaia

Diario de bordo: agosto de 2008 (parte II)

Tour para Manali

Bom, a viagem para o norte foi, como dizem os bugueiros das praias do nordeste do Brasil, “com emocao” (e muita emocao!). Nao que haja a opcao “sem emocao”; ou voce aproveita a emocao, ou morre de desespero, rs. Primeiro pelo fato de 2/3 da estrada ser nas montanhas, com apenas uma via (a pista que vai eh a mesma que volta) e cheia de curvas ao longo de toda viagem. Segundo, porque nosso querido motorista nos “privilegiou” durante todo o trajeto (ida e volta, diga-se de passagem...) com memoraveis “pescadas” ao volante...
Entao vamos la! Haviamos combinado com a agencia de viagens que o motorista iria nos buscar as 5 horas da manha de segunda-feira. A emocao ja comecou antes mesmo de sairmos da cidade, pois o carro que iria nos levar quebrou antes de chegar em minha casa... tive que ligar para a agencia, que logo enviaram outro carro. Enfim, saimos com quase 1 hora e meia de atraso. O nosso motorista chegou com um sorriso simpatico e aparentemente bem disposto para nossa viagem de 12horas com destino a Manali. Mas a disposicao do motorista era soh fachada... em pouco menos da metade da viagem percebemos que o motorista, em alguns momentos, cochilava no voltante... ahi meu Deus, o que fazer? Cheguei delicadamente no motorista e perguntei se ele estava bem... acho que ele foi honesto demais na resposta, pois logo ele se levantou e disse que nao estava bem, e que precisava parar para tomar uma xicara de cha, que ajudaria ele a acordar para a viagem. Pois bem, na primeira biboca que apareceu, ele fez o primeito pit stop para a tomada de cha. Depois disso, era soh ele comecar a pescar que logo ele arranjava outro boteco de beira-de-estrada para tomar o chazinho e despertar. Pena que eles ainda nao conhecem o guarana em po, senao eu ja teria socado uma bela colher de sopa no chazinho dele... queria ver ele cochilar no voltante de novo...
Em uma dessas paradas para o chazinho, perguntei inocentemente se haveria a possibilidade de eu ir ao banheiro, pois estavamos viajando a varias horas, e nao tinhamos parado para tirar a agua do joelho em nenhum momento. O motorista, todo prestativo, foi perguntar onde eu poderia utilizar o banheiro. Voltou rapidamente para o carro e me indicou um caminhozinho por tras do boteco de beira-de-estrada, onde o final dava para o tao sonhado banheiro. Ta, eu ja esparava que esse banheiro nao seria la grande coisa, afinal, estavamos no meio do nada e no interior da India, onde as condicoes de higiene sao bastante precarias. Mas o que encontrei no final do caminhozinho foi algo impressionante: quando a estradinha terminou, me dei de frente com um matagal, que revelava no horizonte um vale sobre o qual atravessavamos por entre as montanhas. Na hora pensei comigo “bom, o banheiro deve ser a moita, entao...”, mas soh para desencargo de consciencia, resolvi perguntar para um senhor que estava por perto. Quando eu disse a palavra “toalet” ele deu um sorrisinho sarcastico e me mostrou uma casinha de barro. “Ah, existe banheiro por aqui!”, pensei toda animada. Mas tudo em vao: quando entrei na casinha (que, na verdade, do lado de fora tinha o aspecto de uma casinha de cachorro feita de barro), nao tinha nada. O banheiro era, na verdade, soh um comodo, de 1xm por 1xm, com uma canaleta no chao que “drenava” a urina para o meio do mato. Uma lona servia de porta para que a pessoa tenha a “privacidade” de urinar ou defecar sem ser vista. Por incrivel que pareca, a minha primeira reacao foi de tristeza por nao estar com a maquina fotografia comigo, pois, apesar de precario, o sistema sanitaria era bem interessante, rsrs. Bem, final da historia: tive que inaugurar o “banheiro” assim mesmo, nao iria conseguir segurar para a proxima parada. Sai de la com a solas dos sapatos mijadas, mas aliviada. No aperto, qualquer coisa serve, rsrs.
Voltemos a viagem... chegamos em Manali ja a noite, animados somente para ir ao hotel, fazer o check-in, tomar um banho, comer, e dormir. Manali fica a 3000 metros acima do nivel do mar, com o ponto mais alto a cerca de quaser 6000 metros. Mas, apesar da altitude elevada, desfrutamos de um clima agradavel, nem muito frio, nem muito quente. Afinal, fomos no verao. Mas ainda foi possivel ver os picos das montanhas cobertas com gelo, o que deixa a paisagem do lugar deslumbrante.
Em um dos dias de passeio, fomos ao local onde as pessoas costumam ir durante o inverno para esquiar. Como sempre acontece com os marinheiros de primeira viagem, fomos todos animados na esperanca de encontrarmos um belo Resort com varias estacoes de esqui, neve e frio. Isso tudo no verao... mas a realidade fez questao de dar-nos um dolorido tapa na cara: ao chegarmos no local, descobrimos que a “estacao de esqui”, no verao, nao passava de um espaco de cerca de 500 metros quadrados com um pouco de gelo misturado a lama formada pela agua derretida. Foi um tanto quanto decepcionante, mas fazer o que? Estamos no verao, caramba! O bom eh que ainda deu para tirarmos umas fotos no gelo vestidos com roupas de esqui e fazer pose de “eu vi neve!”. E o melhor: a paisagem que era muito bonita: como estavamos a 6000 metros de altitude, as nuvens passavam quase aos nossos pes, parecia que estavamos no ceu... Agora, para esquiar a 6000 metros de altitude tem que ter muito folego, viu. Eu, que me considero bem preparada fisicamente, quase que engulo o proprio pulmao soh de ter que andar do carro ate a “estacao de esqui”, que nao levou mais do que 15 minutos...agora entendo porque os jogadores de futebol reclamam tanto quando tem que jogar no Peru...
Durante o passeio de cinco dias, visitamos alguns templos, monasterios, passeamos pelas montanhas e pudemos visitar outras duas cidades, Kullu e Manikaran. Na ultima cidade, que eh considerada um local espiritual e de peregrinacao tanto de hindus como de sikhs, a maior atracao eh a agua que sai das nascentes. As fontes de agua tem a temperatura extremamente quente e varias pessoas vao para la com o obejtivo de se banharem nessas aguas a fim de se curarem de doencas de pele, e se limparem espiritualmente. Diz a lenda que a agua passou a ter temperaturas elevadas devido a ira de Lord Shiva, quando este morava nessa regiao com sua esposa Parvati. Por isso, um dos templos mais famosos da regiao eh o Templo de Lord Shiva. Chegamos a ir numa piscina publica e a temperatura da agua eh tao alta, que soh de se aproximar ja da para sentir o vapor quente; imagine entrar numa agua dessas... Um fato interessante eh que fogo eh proibido na cidade; a comida eh feita sob uma panela que fica encima da agua enfervecente. Alem de servir para curar, a agua quente tambem serve como “fogao”. E dizem que a comida fica pronta em tempo mais rapido do que se fosse utilizado um forno comum...
Bom, vou parando por aqui, ja escrevi demais. Mas saibam que, apesar da viagem ser bastante cansativa (e aventureira), o norte da India traz paisagens e tradicoes que merecem ser visitados. Soh que, da proxima vez, eu vou de aviao...

Templo Dourado

Diario de bordo: agosto de 2008.
Este mes vou contar sobre dois passeios que fiz, um para o extremo oeste, perto da divisa com o Paquistao, e outro para o norte da India. Entao acho que vou dividir em dois posts, senao ficara muito grande...
Comecarei com o primeiro passeio: o pessoal do laboratorio resolveu montar uma excursao para uma cidade chamada Amritsar, onde fica o famoso Golden Temple – ou “Templo Dourado” – pois ele eh todo banhado de ouro. Este eh o maior templo Sikr, religiao derivada do hinduismo que hoje ocupa o segundo lugar de adeptos no pais. No entanto, pessoas de todas as religioes vao visitar esse templo, nao somente pela questao espiritual, mas pela beleza do lugar. Bem, esta cidade fica no extremo oeste da India, a 35km da divisa com o Paquistao. Entao, aproveitamos para ir la tambem, afinal, nao eh sempre que se ve indianos e paquistaneses convivendo sem guerras...
Partimos de Nova Delhi numa sexta-feira de manha e tinhamos o intuito de fazer os 500km ate Amritsar em 10 horas (tempo recorde, pois as estradas daqui sao terriveis!). Conseguimos chegar na cidade as 8 horas da noite, exaustos, famintos e doidos para um banho...
No outro dia, fomos ao Golden Temple. Antes de entrar, tivemos que tirar os sapatos, lavar pes e maos (para se purificar de qualquer sujeira....) e soh eh permitido entrar se a cabeca estiver coberta (pode ser com um chale, lenco, bandana, contanto que cubra). La dentro, ha um lago enorme onde se pode observar pessoas banhando-se nas aguas para se purificar. Ha uma ala separada para que as mulheres tambem desfrutem do banho sob as aguas sagradas. No meio do lago se encontra o templo e, para entrar nele, ha uma ponte conectando a margem do lago ao templo. Nao pense que entrar no templo eh facil: a fila eh enorme e a ponte mais parece um formigueiro de tanta gente disputando um pedacinho de espaco para nao ser jogada no lago e conseguir chegar no templo dourado. Eu nao tive tanta fe para enfretar essa fila... preferi ficar olhando soh de fora mesmo e tirar umas fotinhas...
O templo eh mantido com trabalhos voluntarios. Quem vai visita-lo aproveita para limpar as escadarias, lavar os banheiros, fazer a comida (os templos costumam oferecer comida para os fieis), enfim, servico eh o que nao falta. Na maioria das vezes, os voluntarios sao pessoas que nao tem condicoes de se hospedar em hoteis e dormem em acomodacoes precarias oferecidas do espaco do templo.


Bom, de la fomos a divisa da India com o Paquistao, que eh conhecida como Wagha Border. Todos os dias, ao por-do-sol, ha uma cerimonia de recolhimento das bandeiras de ambos os paises. Fomos para la assistir a essa cerimonia. Mas a cerimonia nao era nada do que eu esperava... quando chegamos no lugar, vi que, no exato local da divisa, encontrava-se um mini-sambodromo lotado de gente dos dois lados, sendo que, na pista, varias pessoas dancavam ao som de musicas indianas (no lado da India) e arabes (no lado do Paquistao). Parecia mais uma festa do que uma cerimonia militar. Tinha ate um animador de torcida que ficava gritando um “Hip hip, Uhaaa” em hindi, e a torcida respondia. La pelas tantas, os militares apareceram, e ahi sim, a pista foi esvaziada e a cerimonia comecou. Depois de muitas marchas, gritos, tira espada- bota espada na cintura, as bandeiras foram abaixadas, ambas ao mesmo tempo (para ninguem reclamar que uma desceu antes da outra) e a cerimonia terminou. E melhor, tudo sem conflitos entre os dois paises. Voltei para o hotel feliz por ter presenciado um acontecimento tao animado e importante para os dois paises.
Ainda tivemos tempo de visitar um parque da cidade chamado Jallianwala Bagh. Este parque ficou conhecido pelo fato de que, na epoca da luta pela indepencia do pais, houve um massacre de centenas de indianos pelos ingleses. E tudo aconteceu neste parque. Ha um enorme poco no local onde se diz que varios corpos de soldados e civis indianos foram jogados, e ainda permanecem la. E tinha gente que ainda ficava debrucada na beirada do poco tentando encontrar algum destes corpos... la tambem ainda esta o muro usado para executar os indianos a tiro, com as marcas de bala evidenciando os assassinatos. A terra dos jardins deste parque eh vermelha, e diz a lenda que ela ficou desta cor apos o massacre. Em homenagem aos que morreram, uma chama foi colocada no local e nunca se apaga, para que a lembranca do evento nunca seja esquecida. Apesar da tragica historia ocorrida neste parque, o lugar eh muito bonito e bem conservado e, hoje em dia, familias inteiras vao para la fazer piquenique, passear, levar os filhos para brincar...
Voltamos no domingo depois do almoco, chegando em Delhi na madrugada de domingo para a segunda. Foi uma viagem rapida, mas divertida e muito interessante. Valeu a pena!

Ligeiramente gravida

Diario de bordo: julho de 2008.
Chegamos ao fim de uma gestacao... 9 meses que passaram voando, mas que, ao mesmo tempo, me fizeram sentir como se eu estivesse vivendo aqui ha anos...Todos os dias vivendo e aprendendo mais sobre o modo de vida indiano, a cultura, habitos, pessoas.. enfim, acho que precisarei de pelo menos uma decada para conhecer tudo e finalmente entender como o ser humano consegue se adaptar a uma variedade tao grande e diferente de estilos de vida. E eh dessa forma que vou compreendendo tantos comportamentos, vou me tornando uma pessoa mais observadora, paciente e posso ate dizer, menos seletiva. Vivendo num pais onde ha tantas diferencas sociais, onde a casta a qual se pertence ainda vale muito na hora de conseguir um bom emprego ou um bom casorio, onde 75% da populacao vive na miseria e ainda sim consegue acordar e sorrir todos os dias pelo pao conquistado no cafe-da-manha, onde as leis nao obedecem nenhuma regra senao a da riqueza, passo a ver o Brasil como o Paraiso. Sim, Deus realmente deve ser brasileiro. Nossos pobres tem um teto, mesmo que pequeno, e na maioria das vezes ate uma televisao com aparelho de DVD, enquando na India, a maioria das pessoas literalmente moram nas ruas, tendo apenas a cama para dormir. As mulheres brasileiras podem sair sozinhas, morar sozinhas, criar filhos sozinhas, serem donas dos proprios narizes sem que a sociedade as discriminem violentamente, enquanto as mulheres indianas, por mais liberais e “westernizadas” que sejam, acabam por se submeter a casamentos arranjados, a dependencia eterna e fiel dos maridos; mulheres com alto grau de instrucao que nao sao colocadas no mercado de trabalho pelo simples fato de serem mais uteis no trabalho do lar.
Pais cheio de mitologias e pensamentos fiolosoficos milenares, muitos deles maravilhosamente aplicaveis ate os dias de hoje, mas com tradicoes e padroes sociais aquem do que a populacao hoje realmente necessita, a India ainda me surpreende e me encanta ao mesmo tempo... todos os dias.
E por falar em 9 meses, vou falar um pouco sobre gravidez na India. Parece um tema meio bobo, mas gravidez aqui eh levada de uma forma bem diferente de como vemos no Brasil. Aqui, apesar de todo o tratamento pre-natal que a gestante recebe, eh por lei proibido saber o sexo do bebe, uma vez que ha ainda muitas mulheres que fazem aborto ao saber que vao dar a luz a uma menina. Tambem nao se faz cha-de-bebe, nem ha aquela preocupacao em se montar um quarto para o recem-nascido. Na India, roupas novas somente depois de 1 ano de idade; de 0 a 11 meses o bebe nao usa roupas e, quando usa, sao usadas, vindas de algum parente, primo, sobrinho, irmao, que ja as tenha utilizado anteriormente. Dai vem a pergunta: quem sera que usou pela primeira vez a roupinha...??? Em alguns lugares, a crianca continua usando roupas de outras pessoas ate atingir 4 ou 5 anos, entao eh normal ver meninos usando blusinhas rosas de florzinhas e meninas de calcas com desenhos de carros de formula 1. Nao se atreva a tentar identificar quem eh menino ou menina nessa idade, pois voce pode passar por um constrangimento enorme... Nunca chame “hei menino”, ou “menina”, chame apenas “crianca”, assim nao ha perigo de passar por ocasioes embaracosas.
Ha tambem o costume de que o bebe durma na mesma cama que os pais ate atingir idade suficiente para dormir no seu proprio quarto. Por isso, nao ha bercos, ‘moises’, ou qualquer outra cama em que o bebe possa dormir, somente carrinhos de bebe e olhe la! No entanto, ve-se criancas de 7-8 anos que ainda dormem na mesma cama dos pais e nunca, repito NUNCA, dormiram nos seus proprios quartos. Fico imaginando como os pais conseguem ainda produzir irmaozinhos a essas criancas... rsrsrs. Isso sem contar que, em vilas e outras cidades menores do interior do pais, familias inteiras dormem na mesma cama, tanto pela tradicao, como pela situacao economica. E o pior eh que essas sao as familias mais numerosas! (Como sera que conseguem?!).


Bom, aqui tambem nao ha aquela festa toda que fazemos quando uma mulher engravida. Ao contrario do Brasil, que recebemos a noticia com alegria e procuramos avisar parentes e amigos sobre o novo ser que vai chegar, aqui na India, ficar gravida eh como ir a padaria comprar pao, soh que o pao que vai sair do forno eh maior! Rsrs. Verdade, eh bem sem-graca ser gestante na India, mas como eh da cultura, eles veem isso como um fato normal, somente nos estrangeiros eh que achamos esquisito.
A proposito, aqui gravidez fora do casamento nao existe. Quer dizer, existe, mas provavelmente sera morte para mae e filho, se nao literal, pelo menos moralmente. Eh considerado tabu a mulher engravidar de namorados e, ainda que se encontre casos raros, a historia com certeza acabara em casamento. Assim, pelo menos nao afetara a “dignidade” da familia. Ha alguns centros clandestinos de aborto, mas que nao oferecem nenhuma higiene, muito menos profissionais que facam o servico adequadamente. Se no Brasil esses locais ja nao oferecem seguranca, imagine aqui... E nao pense que camisinha eh divulgada na India, porque nao eh. Logicamente, creio ha muito poucos lugares no mundo onde os metodos anticoncepcionais sao divulgados tao abertamente quanto no Brasil (nao que eu concorde com isso...). No entanto, na India, muitos adultos, ainda nos dias de hoje, crescem sem nem mesmo ter ouvido falar em metodos anticoncepcionais. Por isso, eh bom segurar soh para depois do casamento, senao...