segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Meia Maratona

Meu desafio do mes foi: correr a Meia Maratona de Nova Deli sem precisar de ambulancia, assistencia da equipe de primeiros-socorros ou qualquer outra ajuda que nao fosse os meus proprios pes. E por incrivel que pareca eu... consegui!
Tudo comecou no mes de setembro, quando me inscrevi para um treinamento oferecido pela Reebok a preparar atletas de fim-de-semana (como eu) a correr os 21km do percurso. Seriam 30 sessoes de 1 hora e meia - das 6:00h as 7:30h - durante tres dias por semana. Em finais do verao, acordar as 5 da matina era ate confortavel. Eu aproveitava a brisa da manha, comprava o leite fresquinho na volta do treino e ainda chegava no horario certo para a labuta diaria no laboratorio. Mas sonho de pobre dura pouco... o inverno chegou devagarinho e a brisa agradavel da manha foi virando geada “gripal” da madrugada. A vontade de acordar as 5:00h tres vezes por semana foi se transformando em Missao Impossivel. Era preciso toda uma equipe de resgate para me fazer sair da cama (muito quentinha, por sinal...). Sem contar que, com o frio que estava fazendo, foi ficando cada vez mais dificil de correr sem produzir aquela respiracao de asmatico – “hiiiiii....hiiiii” - ate transpirar ficava dificil, meu corpo nao esquentava o suficiente para sair uma gotinha de suor sequer. Mas nao desisti; apesar de ter que me chicotear todas as manhas para ir ao treino, eu ia. Mas foi compensador, pois fui percebendo que minha resistencia aumentava e, aos poucos, conseguia correr mais e mais.
Enfim, chegou o grande dia! Eu, de roupinha nova (mas com o tenis velho, pois foi com muito custo que consegui amacia-lo para a corrida), fui toda feliz para o local de inicio da Maratona. Para variar, a corrida estava marcada para as 7:30 em pleno domingo, mas tudo bem... mais um sacrificio para a realizacao do meu tao sonhado desafio.
Ao chegar no ponto de largada, vi que todas as corridas sao iguais, independente do lugar: na frente, vao os atletas profissionais e atras, vai o resto. E de resto, pode-se considerar nos atletas de fim-de-semana, equipes de torcida e animacao de festas, bandinhas,pessoas fantasiadas, grupos com faixas de “Alo mamae”, protestos, propagandas e o que mais a imaginacao criar. Os “atletas” da corrida de Sao Silvestre viram profissionais quando comparados ao bandole que eh a Meia Maratona de Delhi.
Dado o grito de largada, ve-se aquela multidao animada, correndo com a garra de um vencedor, sorrindo para as cameras e acenando para os amigos e familiares que estao observando a corrida do lado da calcada. A cada 3 km havia um estande oferecendo agua aos atletas, bem como uma equipe dancando coreografias aerobicas com pompons, a fim de incentivar os corredores. O animo eh geral... ate o kilometro 5... quando os primeiros atletas profissionais comecam a apontar no caminho de volta – a apenas 30 minutos de corrida – ve-se uma mistura de desapontamento com espirito esportivo de incentivo. Ainda estamos a menos de um quarto do percurso e esses caras ja estao voltando! Alguns aplaudem, gritam “Parabens!”, mas a maioria ja pensa em desistir e comeca a caminhar...
Eu, no meu trote*, aproveito o embalo de desanimo geral dos “atletas” e tento ultrapassar o maior numero de pessoas possivel. Mas, a quantidade de obstaculos parece interminavel: quando penso que a muvuca ja passou, aparece uma equipe com cerca de 100 bombeiros que bloqueia qualquer espaco disponivel para ultrapassagem. Alem de ficar impossibilitada de continuar a corrida no meu trote, ainda tenho que ouvir a tipica cancao militar para corridas: “Um, dois, tres, quatro! Quatro, tres, dois, um!”. O jeito foi apelar e forcar uma ultrapassagem pela calcada...
10 km... eu estava bem perto do India Gate (o trajeto saia do Nehru Park em direcao ao India Gate, dava a volta ate o Parlamento e depois voltava ao Nehru Park). A vontade de parar e andar um pouco foi tomando conta do meu pensamento... e das minhas pernas tambem. Resolvi caminhar... Aaaahhhhh!!! Que sensacao horrorosa! Eu nao estava sentindo as minhas pernas!! O jeito foi continuar trotando novamente, as pernas iriam doer, mas era melhor do que tentar voltar a andar...
15 kilometros haviam se passado e eu ja sonhava com o ponto de chegada. Nessa altura do campeonato, 90% dos “atletas” ja estavam caminhando ou haviam desistido definitivamente da corrida. Resolvi fixar o slogan da Maratona** em minha mente e fazer com que meu psicologico pensasse que tudo era diversao. “Joy...joy...”, eu pensava. Onde esta essa satisfacao que nao aparece?!
18 kilometros... chegava a ser hilario, senao tragico, ver a equipe, que antes apresentava coreografias aerobicas com seus pompons para animar os corredores, mostrar-se desconsolada e sem energia para continuar animando os desanimados... deu ate vontade de chorar...
Ja havia corrido 18 km... eu tinha que correr mais 3! O mantra “joy...joy...” nao estava funcionando muito bem, entao resolvi partir para a agressao: desisti do trote e acelerei o maximo que pude. Nao sabia se ficaria paraplegica no final da corrida, se um pedaco das pernas ficaria no meio do percurso, mas com todas as forcas poderosas desse universo, eu queria ver o ponto de chegada!!! 19km.... 20km... 20.5km... cade o ponto de chegada?! Sera que eu virei para o lado errado na rotatoria e estou correndo o trajeto contrario?! Nao, nao, eu estava perto. E duas horas e meia depois do inicio da corrida, pude ouvir os gritos da multidao que esperava os restos mortais do povao que se acotovelava para tentar chegar na reta final.
Foi um momento glorioso: me vi em camera lenta cruzando a linha de chegada. Flores sendo jogadas no chao para mim, a torcida dizendo “Eh campea!”, a equipe tecnica me pegando nos bracos e trazendo agua, toalhinha, relaxante muscular... que me dera... Quando atravessei a linha de chegada, ainda tive que percorrer mais uns 200 metros, ou seria pisoteada pela turba desesperada que vinha atras de mim. Terminar o percurso nao era soh uma meta minha, mas de pelos 20.000 pessoas que tambem participaram da corrida. Mas mesmo assim foi glorioso. Melhor do que bater um recorde mundial, foi bater meu recorde pessoal.
Maratona terminada, fui ao espaco de recepcao dos atletas. La recebi medalhinha, certificado, lanche e havia ate dois carinhas segurando placas com os dizeres “Free hugs” para os atletas desconsolados que nao tinham ninguem para abracar no final da corrida...
Cheguei em casa mais do que exausta, as pernas meio atrofiadas, roupa suja e suada, mas com o ego e a satisfacao no alto! Valeu, Delhi!

*Trote = corrida em velocidade minima, quase andando, mas nao completamente andando...
**Slogan da Maratona:”Remember the joy of running” (lembre-se da satisfacao em correr). A Airtel, companhia patrocinadora da Maratona, apresentava uma propaganda em que chamava os atletas a relembrar os tempos de crianca, quando se corria sem nenhuma razao, e convidar todos a correr mais uma vez.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ahhhh não existe nada mais compensador do que bater um recorde pessoal, não? Mas me diga, por quanto tempo vc se preparou? Eu estou precisando voltar à ativa, rsrsrsrs... estava pensando justamente em correr... será que precisa de técnico ou é só começar? Enfim... muito legal seu post, gosto bastante do teu blog!

Patricia Pelegrini disse...

Bem, eu comecei a treinar para a maratona em julho. Comecei sozinha e num parque perto de casa. Em setembro foi que me inscrevi para o treinamento, o que foi otimo, pois a professora era muito boa e deu bastante dicas pra gente. Mas eu ja corria antes, soh nunca havia corrido 21km. Sempre que estou parada e volto a treinar, comeco andando 5 minutos e correndo 1. Depois, na outra semana, ando 4 min e corro 2min, e assim por diante. Depois vou correndo 15min sem parar, 20, 30, ate o corpo se adaptar e eu conseguir correr 1 hora sem parar.
Da pra treinar sozinho sim, eh soh manter a disciplina e paciencia.
Beijos

Profa. Anne Winne disse...

Ohhhhh: "Free hugs”!!!! Ai, que gracinha!!!! rs.

Profa. Anne Winne disse...

Essa é a Patrícia Pelegrini!!!! Sempre batendo seus próprios recordes!!!! Quero ser igual a você quando crescer!