quinta-feira, 3 de junho de 2010

Devdas x DevD

Todo mundo que gosta de filme indiano já deve ter assistido ao filme Devdas. Baseado num livro bengali publicado pela primeira vez em 1917, Devdas teve sua primeira versão bolywoodiana em 1927. A história é tão comovente e cativante que já teve 11 versões para o cinema, incluindo a mais recente produzida por diretores paquistaneses. A mais famosa é a versão de 2002 que contou com atores famosos como Shahrukh Khan e Ashwarya Rai.
Tanto o livro como os filmes contam a seguinte história: Devdas é um jovem de uma rica família Brahmin da região de Bengali (leste da Índia) do início do século XX. Paro (ou Parvati) é uma jovem moça de uma família bengali de classe média, da classe dos comerciantes. As duas famílias vivem numa pequena cidade da região, onde Devdas e Paro crescem juntos, mantendo uma forte e duradoura amizade desde a infância.
Devdas, entretanto, sai da cidadezinha e vai morar em Calcutá a fim de terminar seus estudos (nas versões atuais dos filmes, a cidade passa a ser Londres). Ao retornar para a cidade natal após 13 anos fora, Paro – sua amiga de infância – espera que sua família case-a com Devdas, devido à amizade entre as famílias e ao amor platônico sempre existente entre os dois. Claro que, de acordo com os costumes hindus, os pais de Devdas não aprovam a união, uma vez que a família de Paro é de uma casta inferior. Assim, para demonstrar seu status social, a mãe de Paro encontra um marido para a filha mais rico do que a família de Devdas. Quando Paro descobre sobre seu casamento arranjado, ela sai à procura de Devdas para que ele possa tomar sua mão em casamento, impedindo que ela se case com o outro homem. Devdas, ao procurar o pai para comunicar seu casamento com Paro, ouve de sua família a mesma resposta dada à mãe de Paro.
Desesperado por saber que seu futuro com Paro mão é permitido, Devdas volta a Calcutá e, de lá, escreve uma carta a Paro, dizendo que eles somente poderão ser amigos nesta vida. Depois de alguns dias, entretanto, ele percebe seu erro e volta à sua cidade. Qual a surpresa quando, ao conversar com Paro, descobre que seu casamento com outro homem já está em andamento, revelando Paro que a covardia e a fraqueza de Devdas fê-lo perdê-la para sempre. Ela, no entanto, faz um último pedido a Devdas, de que ele voltará para ela antes de morrer. Devdas promete voltar e parte novamente a Calcutá.
Paro casa-se então com um homem viúvo e já com um filho. O homem revela a Paro que o casamento realizado ali foi apenas uma formalidade, pois seu amor ainda existia por sua primeira esposa e seria impossível que ele pudesse amar Paro.
Em Calcutá, Devdas re-encontra seu amigo Chunnilal, que o apresenta a uma cortesã chamada Chandramukhi. Devdas passa a freqüentar o salão de Chandramukhi todas as noites, entregando-se a boemia e ao alcoolismo. A cortesã, porém, apaixona-se por Devdas e faz de tudo para cuidar dele. A saúde de Devdas deteriora devido ao alcoolismo, mas este mantém o vício como uma forma de suicídio lento, punindo-se pela perda de Paro. Devdas encontra dentro de si uma constante comparação entre Paro e Chandramukhi, pelo contraste entre as duas mulheres e a dúvida de seu amor por elas.
Sabendo que vai morrer, Devdas retorna a sua cidade para encontrar Paro e firmar sua promessa com ela. Porém, ele morre na porta de sua casa, sozinho. Paro é impedida de ver Devdas pela família do marido, que sabia de seu amor por ele.
O triste final demonstra o poder dos costumes e das famílias indianas do início do século XX, mostrando que a responsabilidade e comprometimento de uma pessoa com a família iam além de um final feliz ou de uma história de amor. A mulher indiana do início do século XX não tinha força de voz ou ação dentro da família e o amor não era visto como algo importante para o casamento.
Mas por que estou escrevendo isso? Porque no ano passado, o diretor indiano Anurag Kashyap criou uma versão fantástica para Devdas. A versão moderna para a história também originou um nome moderno – DevD (apelido de Devdas). Anurag utilizou atores pouco conhecidos e cenas extremamente fortes para o público indiano, resultando no único filme de 2009 a ser classificado como 5 estrelas pela crítica de Bolywood. E se vocês pensam que o final do filme foi triste, estão bem enganados.
Apesar de DevD não se casar com Paro na versão de 2009 (assim como em todas as outras versões), o personagem principal ganha uma liberdade para tomar decisões de sua própria vida que o torna mais forte e mais consciente de seus sentimentos. DevD e Devdas, na verdade, tornam-se duas pessoas completamente diferentes: enquanto Devdas morre incerto de seu amor por Paro ou Chandramukhi, DevD não só sobrevive, como dá a volta por cima de sua vida na boemia, enfrenta suas fraquezas e reconhece que seu amor por Paro, na realidade, nunca existiu. Enquanto Devdas busca a piedade no alcoolismo, DevD encontra a coragem para mudar e descobre que o caminho para ser feliz ainda existe.
Mas a mensagem mais importante que o filme DevD conseguiu transmitir é a de que o amor não necessariamente nasce de uma relação em longo prazo, e nem deve ser mantido somente por causa disso; mas, com certeza, o amor cresce do respeito e da dedicação entre duas pessoas, não importa quanto tempo dure...
Moral da história: dia 12 está chegando e muitos apaixonados já estão na expectativa do grande dia. Então aproveitemos a data para nos dedicarmos ás pessoas que amamos, no sentido de as conhecermos mais, respeitarmos mais e de descobrir que o melhor amor é aquele que nos deixa livres de dúvidas, de regras, de apreensões. Porque o verdadeiro amor não tem barreiras e, muitas vezes, nem é eterno... mas é amor.