quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Nos picos do Himalaia

Diario de bordo: agosto de 2008 (parte II)

Tour para Manali

Bom, a viagem para o norte foi, como dizem os bugueiros das praias do nordeste do Brasil, “com emocao” (e muita emocao!). Nao que haja a opcao “sem emocao”; ou voce aproveita a emocao, ou morre de desespero, rs. Primeiro pelo fato de 2/3 da estrada ser nas montanhas, com apenas uma via (a pista que vai eh a mesma que volta) e cheia de curvas ao longo de toda viagem. Segundo, porque nosso querido motorista nos “privilegiou” durante todo o trajeto (ida e volta, diga-se de passagem...) com memoraveis “pescadas” ao volante...
Entao vamos la! Haviamos combinado com a agencia de viagens que o motorista iria nos buscar as 5 horas da manha de segunda-feira. A emocao ja comecou antes mesmo de sairmos da cidade, pois o carro que iria nos levar quebrou antes de chegar em minha casa... tive que ligar para a agencia, que logo enviaram outro carro. Enfim, saimos com quase 1 hora e meia de atraso. O nosso motorista chegou com um sorriso simpatico e aparentemente bem disposto para nossa viagem de 12horas com destino a Manali. Mas a disposicao do motorista era soh fachada... em pouco menos da metade da viagem percebemos que o motorista, em alguns momentos, cochilava no voltante... ahi meu Deus, o que fazer? Cheguei delicadamente no motorista e perguntei se ele estava bem... acho que ele foi honesto demais na resposta, pois logo ele se levantou e disse que nao estava bem, e que precisava parar para tomar uma xicara de cha, que ajudaria ele a acordar para a viagem. Pois bem, na primeira biboca que apareceu, ele fez o primeito pit stop para a tomada de cha. Depois disso, era soh ele comecar a pescar que logo ele arranjava outro boteco de beira-de-estrada para tomar o chazinho e despertar. Pena que eles ainda nao conhecem o guarana em po, senao eu ja teria socado uma bela colher de sopa no chazinho dele... queria ver ele cochilar no voltante de novo...
Em uma dessas paradas para o chazinho, perguntei inocentemente se haveria a possibilidade de eu ir ao banheiro, pois estavamos viajando a varias horas, e nao tinhamos parado para tirar a agua do joelho em nenhum momento. O motorista, todo prestativo, foi perguntar onde eu poderia utilizar o banheiro. Voltou rapidamente para o carro e me indicou um caminhozinho por tras do boteco de beira-de-estrada, onde o final dava para o tao sonhado banheiro. Ta, eu ja esparava que esse banheiro nao seria la grande coisa, afinal, estavamos no meio do nada e no interior da India, onde as condicoes de higiene sao bastante precarias. Mas o que encontrei no final do caminhozinho foi algo impressionante: quando a estradinha terminou, me dei de frente com um matagal, que revelava no horizonte um vale sobre o qual atravessavamos por entre as montanhas. Na hora pensei comigo “bom, o banheiro deve ser a moita, entao...”, mas soh para desencargo de consciencia, resolvi perguntar para um senhor que estava por perto. Quando eu disse a palavra “toalet” ele deu um sorrisinho sarcastico e me mostrou uma casinha de barro. “Ah, existe banheiro por aqui!”, pensei toda animada. Mas tudo em vao: quando entrei na casinha (que, na verdade, do lado de fora tinha o aspecto de uma casinha de cachorro feita de barro), nao tinha nada. O banheiro era, na verdade, soh um comodo, de 1xm por 1xm, com uma canaleta no chao que “drenava” a urina para o meio do mato. Uma lona servia de porta para que a pessoa tenha a “privacidade” de urinar ou defecar sem ser vista. Por incrivel que pareca, a minha primeira reacao foi de tristeza por nao estar com a maquina fotografia comigo, pois, apesar de precario, o sistema sanitaria era bem interessante, rsrs. Bem, final da historia: tive que inaugurar o “banheiro” assim mesmo, nao iria conseguir segurar para a proxima parada. Sai de la com a solas dos sapatos mijadas, mas aliviada. No aperto, qualquer coisa serve, rsrs.
Voltemos a viagem... chegamos em Manali ja a noite, animados somente para ir ao hotel, fazer o check-in, tomar um banho, comer, e dormir. Manali fica a 3000 metros acima do nivel do mar, com o ponto mais alto a cerca de quaser 6000 metros. Mas, apesar da altitude elevada, desfrutamos de um clima agradavel, nem muito frio, nem muito quente. Afinal, fomos no verao. Mas ainda foi possivel ver os picos das montanhas cobertas com gelo, o que deixa a paisagem do lugar deslumbrante.
Em um dos dias de passeio, fomos ao local onde as pessoas costumam ir durante o inverno para esquiar. Como sempre acontece com os marinheiros de primeira viagem, fomos todos animados na esperanca de encontrarmos um belo Resort com varias estacoes de esqui, neve e frio. Isso tudo no verao... mas a realidade fez questao de dar-nos um dolorido tapa na cara: ao chegarmos no local, descobrimos que a “estacao de esqui”, no verao, nao passava de um espaco de cerca de 500 metros quadrados com um pouco de gelo misturado a lama formada pela agua derretida. Foi um tanto quanto decepcionante, mas fazer o que? Estamos no verao, caramba! O bom eh que ainda deu para tirarmos umas fotos no gelo vestidos com roupas de esqui e fazer pose de “eu vi neve!”. E o melhor: a paisagem que era muito bonita: como estavamos a 6000 metros de altitude, as nuvens passavam quase aos nossos pes, parecia que estavamos no ceu... Agora, para esquiar a 6000 metros de altitude tem que ter muito folego, viu. Eu, que me considero bem preparada fisicamente, quase que engulo o proprio pulmao soh de ter que andar do carro ate a “estacao de esqui”, que nao levou mais do que 15 minutos...agora entendo porque os jogadores de futebol reclamam tanto quando tem que jogar no Peru...
Durante o passeio de cinco dias, visitamos alguns templos, monasterios, passeamos pelas montanhas e pudemos visitar outras duas cidades, Kullu e Manikaran. Na ultima cidade, que eh considerada um local espiritual e de peregrinacao tanto de hindus como de sikhs, a maior atracao eh a agua que sai das nascentes. As fontes de agua tem a temperatura extremamente quente e varias pessoas vao para la com o obejtivo de se banharem nessas aguas a fim de se curarem de doencas de pele, e se limparem espiritualmente. Diz a lenda que a agua passou a ter temperaturas elevadas devido a ira de Lord Shiva, quando este morava nessa regiao com sua esposa Parvati. Por isso, um dos templos mais famosos da regiao eh o Templo de Lord Shiva. Chegamos a ir numa piscina publica e a temperatura da agua eh tao alta, que soh de se aproximar ja da para sentir o vapor quente; imagine entrar numa agua dessas... Um fato interessante eh que fogo eh proibido na cidade; a comida eh feita sob uma panela que fica encima da agua enfervecente. Alem de servir para curar, a agua quente tambem serve como “fogao”. E dizem que a comida fica pronta em tempo mais rapido do que se fosse utilizado um forno comum...
Bom, vou parando por aqui, ja escrevi demais. Mas saibam que, apesar da viagem ser bastante cansativa (e aventureira), o norte da India traz paisagens e tradicoes que merecem ser visitados. Soh que, da proxima vez, eu vou de aviao...

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