quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Oi, qual a sua religiao? Quer casar comigo?

Diario de bordo: dezembro de 2007.

Desculpem a demora em enviar as noticias sobre o terceiro mês em que estou aqui, mas é que fiquei um pouco confusa sobre o que escrever. Aconteceram tantas coisas durante o mês de dezembro que foi difícil selecionar o que era mais interessante para se escrever. Bom, resolvi fazer o seguinte: estou enviando um pouco do que aprendi durante o mês de novembro e um pouco do mês passado. Com o tempo, vou escrevendo sobre as outras coisas e envio a vocês, ta certo?
Ok, então vamos lá!
Durante os últimos três meses em que estou vivendo na Índia, tenho aprendido bastante, não somente sobre a cultura deste pais, como também sobre modos de vida diferentes, pessoas diferentes, comidas diferentes e, sobretudo, muitos experimentos e trabalhos científicos que eu não havia feito antes (afinal, este é o objetivo principal da minha vinda).
Aqui na Índia, a religião é dividida em quatro categorias principais: hindus, sikhs, muçulmanos e cristãos. As duas primeiras são majoritárias, sendo que somente 40% da população eh muçulmana ou crista. A diferença entre hindus e sikhs é mais ou menos como a diferença entre católicos e protestantes. Apesar de acreditarem em vários deuses e manterem um ritual de tradições que vão do jejum a meditação, a principal característica do hinduismo é a crença de que Deus esta dentro de cada um de nos. Para eles, todos têm um Deus em nosso interior e, portanto, é buscando este Deus que podemos encontrar a paz, a evolução da alma, o Nirvana. Os mantras são meios de se buscar este Deus, e o mais conhecido é o "Om", palavra que significa "Perfeição" e, quando pronunciado de forma correta e repetidas vezes, acalma o espírito, eleva a alma e traz vibrações boas para a pessoa que o pratica. As pessoas mais velhas das famílias são tratadas e respeitadas como Deuses que atingiram um estagio mais avançado de evolução. Por isso, filhos e netos costuma tocar os pés de seus pais e avos ao cumprimentá-los, em sinal de adoração a um Deus presente.
Dentro da religião hindu, existem quatro divisões, também chamadas de castas. Cada casta indica não somente os grupos de deuses cultuados (pois existem mais deuses indianos do que santos católicos por aqui), como também a classe social a que a pessoa pertence. Eu não sei direito a historia das castas, mas elas são basicamente divididas em nomes que lembram classes sociais: "clero", "soldados", "comerciantes" e "serventes". As pessoas da classe "clero" são consideradas nobres e, consequentemente, as mais requisitadas para casamentos e relações comerciais. Antigamente, as pessoas desta casta eram compostas pelas pessoas mais ricas da sociedade, mas hoje, com a "ocidentalização" da India e modificações culturais ao longo do tempo, a classe rica passou a conter pessoas de outras castas também.
Depois do "Clero" vem os "soldados", hoje correspondente a nossa classe media. A maior parte da população hindu se encontra dentro desta categoria. Os "comerciantes" são os semelhantes a nossa classe media - baixa e, finalmente, os "serventes" são compostos pela parte pobre a paupérrima da população. No entanto, mesmo com toda modernização existente, algumas famílias ainda contestam quando dois jovens de castas diferentes pretendem se casar. E ainda existem casamentos arranjados e pior, jovens que preferem esses tipos de casamento!
E por falar em casamento, namoro aqui é coisa seria: independente da idade, as pessoas só namoram se for para dar em casamento (na maioria das vezes... eheh). Namorar só por namorar, nem nos filmes! E tudo é bem discreto: casais não se beijam em lugares públicos, alias beijar em publico aqui é quase crime, só entre quatro paredes (apenas de já ter visto casais se pegando atrás das moitas de alguns parques e no escurinho do cinema)... abraço pode dar, contanto que seja bem discreto. Nada de pegação, agarração, ou coisas do gênero. Mãos dadas é mais do que o suficiente para saber que aquele casal é de namorados.
Os homens, entre si, podem se beijar e se abraçar sem serem considerados homossexuais, pois o comportamento que vemos no Brasil entre amigas é mais comum aqui entre amigos. Os namoros também costumam durar pouco tempo, aqui não tem enrolação, a não ser que o casal seja muito jovem ou os pais de um dos lados não aprovarem a união dos namorados. Nesse caso, o namoro pode durar anos e acabar não dando em nada. Mas, em geral, do namoro ao casamento, não leva muito tempo.
Um fato muito interessante foi o que um dos alunos de pós-doutorado me contou sobre sua vida amorosa. Ele é casado há um ano e meio e disse que só conheceu sua esposa no dia do casamento. Antes de se conhecerem, eles se falaram algumas vezes por telefone, mas a união foi arranjada pela família de ambos. Antes de se casar, este rapaz me contou que era apaixonado por outra moca, mas que a família de ambos não concordavam com o casamento dos dois, pois eles pertenciam a castas diferentes. Hoje ele tem um filho de seis meses com a esposa e diz ter aprendido a amá-la. Disse-me que não foi contra o casamento arranjado, que hoje se sente feliz, mas que preferiria ter se casado com a moca com a qual se apaixonou de verdade. Isso, meus amigos, é Índia!
Aqui a proporção de homens é maior do que a de mulheres, então ocorre o contrario do que vemos no Brasil: são os homens que procuram mulheres para casar e não, o contrario. Para cada 10 homens na Índia, tem-se apenas 6 mulheres, quase a metade. Para as mulheres brasileiras solteiras, encalhadas, desesperadas e a procura de um homem para casar, venham para a Índia que aqui nenhum homem vai te cozinhar por anos a fio para depois te largar! A primeira coisa que eles perguntam para a moca quando gostam dela, é se ela aceitaria se casar com ele (lógico, depois de perguntar sobre a religião dela, fazer o balanço sobre as condições financeiras da família da moca, a casta a qual ela pertence, etc. e tal)... o difícil será encontrar algum homem bem apessoado, com todos os dentes na boca (e brancos também!), que não fique cuspindo o tempo todo no chão, que não use bigode tipo-mexico-1880 (a não ser que você tenha tara por bigodes...), que não goste de pagar micos (gente, como os indianos gostam de pagar mico... mas isso vai ficar para outra historia) enfim... Boa sorte! Mas, brincadeiras a parte, eles são muito simpáticos e, apesar de beleza masculina não ser o forte deles, o cavalheirismo e gentileza compensam os fatores externos.
Ah! Só mais uma coisa: não se preocupe tanto em ser magrinha ou sarada para conquistar um indiano porque eles gostam mesmo é das gordinhas! (será que o Roberto Carlos veio aqui antes de gravar aquela musica?). Aqui magreza é associada à pobreza, pois como a maior parte da população é pobre, quem consegue engordar é porque tem dinheiro para comprar mais comida, rs. Sinceramente não vi nenhuma pessoa obesa aqui; gordinhos têm, apesar de poucos, mas obesos, nenhum. No entanto, com o processo de ocidentalização do pais, essa questão de magreza passou a preocupar as mulheres daqui também, mas mesmo assim ate hoje não encontrei nenhuma indiana que freqüente academia, faca exercícios físicos para se manter em forma ou qualquer tipo de dieta. Elas investem mesmo é na área dos comesticos, com tratamentos faciais, produtos para cabelos, salões, massagens, óleos e muita yoga para descansar a beleza! rs

Agora, mudando de assunto, finalmente descobri de onde vem tanta poeira e porque ela é de cor preta e não, marrom, como é de costume. Infelizmente o que eu achava que era poeira, na verdade, é poluição. Eh incrível imaginar o quanto esta cidade é poluída. Ate mesmo minhas roupas brancas não podem ficar muito tempo no varal porque, quando secam, já estão com aquela camada de pó preto por cima. E o pior é que não se pode fazer nada para diminuir essa poluição. A conscientização sobre cuidados com o meio ambiente ainda não chegou por aqui.


O jeito é limpar a casa todos os dias, usar chales quando sair às ruas para cobrir a cabeça e o rosto, e não deixar a roupa por muito tempo no varal. Graças a minha cunhadinha descobri também que o céu daqui não é azul por causa da bendita poluição... não tinha ligado uma coisa com a outra ate perceber que o céu aqui nunca é azul, sempre é branco, ou meio enevoado, ou um azul esfumaçado. Acho que não verei um céu azul tão cedo... snif... ou melhor...coff coff coff....

Um comentário:

margga disse...

Passei aqui hoje por indicação de uma amiga em uma comunidade que participamos, o diHITT. Adorei seu texto e passei a segui-la. Tenho uma imagem aqui que me lembrou a sua dos sapatinhos vermelhos. Quando postar em um dos meus blogs comunico com você para que dê uma olhadinha.
ABÇão e bom mês por estas paragens.
Margareth Duval