terça-feira, 3 de novembro de 2009

Felicidade


Há alguns dias atrás, li um texto na internet comentando sobre um livro escrito pela psicologa Sonja Lyubomirsky. O nome do livro é “The how of happiness” e descreve passos para alcançar a tão sonhada felicidade; mas lógico, tudo sob o ponto de vista da psicologia e após anos e anos de estudos dedicados a este assunto. Pois bem, o livro me chamou atenção e resolvi comprá-lo. Li-o todo em uma semana. Sempre tive atração pelo comportamento humano, apesar de minhas escolhas profissionais terem me levado para outro lado da ciência. Mas nunca perdi minha curiosidade em desvendar os mistérios do pensamento humano. O livro é simples e objetivo; nada de auto-estima, é pura ciência. E o mais importante, a escritora coloca no livro muito do que nós já sabemos, mas insistimos em esquecer o tempo todo: “A felicidade só depende da gente”. Isso mesmo, só depende de mim para eu ser feliz e ninguém mais. E, de acordo com Sonja, o primeiro passo para ser feliz não é difícil, mas acredito que, para a maioria das pessoas, deve ser um processo muito doloroso de se conquistar: “...ser responsável pelas próprias ações e as conseqüências que elas trazem em nossas vidas...”
Realmente, se responsabilizar pelos próprios insucessos profissionais, amorosos, financeiros ou qualquer que seja, é uma tarefa complicada para quase todos nos. Quase todos...
Mas o que psicologia, felicidade e aceitação dos erros tem a ver com a Índia? Tem muito a ver.
Veja bem. Cresci num país onde a população está mais do que acostumada em culpar o governo pela falta de recursos, a polícia pela criminalidade, a televisão pela falta de respeito dos filhos em relação aos pais, a corrupção dos outros pela nossa falta de dinheiro, o colega de trabalho oportunista pela nossa promoção adiada, Deus pela falta de fé, o fast-food pelo nosso excesso de peso, etc etc etc. Não conheço um brasileiro que não tenha algo a reclamar, até eu mesma o faço. E assim continuamos vivendo insatisfeitos, problemáticos, ambiociosos... Respeitamos as leis dos países alheios, mas preferimos criticar nossos métodos a modificá-los. E quando vemos os mesmos erros em outros países então... encontramos a fonte de ataque para nosso descontentamento. Esclareco logo que esse comentário é generalizado. Para toda regra, existem exceções.
Mas o que vejo aqui na Índia é que, apesar da pobreza, da corrupção, da falta de higiene, da poeira e tudo o mais de ruim que aqui possa ter, as pessoas são felizes. Ou pelo menos, demonstram ser. Se chove, todos festejam a chuva bem-vinda que veio lavar o ceu. Se faz sol, eles tambem festejam. Eles sabem que o país nao é o melhor do mundo, estão atentos à corrupção dos políticos, à pobreza, mas não fazem disso motivo para viverem uma vida cheia de problemas e frustrações. Claro que, você também não vai ver indianos cara-pintada saindo as ruas em protesto contra o governo, nem milhares de ONGs espalhadas pelo país “informatizando” crianças carentes das favelas.
Então, o faz com que os indianos demonstrem mais felicidade do que os brasileiros? Volto a teoria de Sonja Lyubomirsky, e acredito que a felicidade não depende só de sermos responsáveis por nossos atos, mas principalmente, vem do fato de apreciarmos cada momento de nossas vidas como algo especial. E é o que se faz aqui. Os indianos sabem apreciar detalhes da vida que, para nós, são motivos de estress, algo que podem nos deixa agressivos e tristes durante todo um dia. Eles são mais pacientes e relevam mais os defeitos, os erros, as imperfeições. Eles julgam menos e compreendem mais.
Quem mora aqui sabe o quanto o trânsito é infernal, o atendimento em bancos e lojas é ocioso, o sistema é ineficiente. Mas, olhando do outro lado do vidro do carro pode-se ver que as pessoas não fazem desses problemas um peso nas costas. Muito menos se incomodam com isso. Do contrário, elas sorriem, se divertem, tentam extrair o que há de melhor nessas situações... e a vida continua...
Sonja, afinal, estava certa: A felicidade só depende da gente! E se só depende de mim para ser feliz em qualquer situação que a vida me coloque, por que não arriscar? Melhor arriscar em ser feliz do que viver uma vida de medos, angústias e frustrações que, na verdade, nao dependem só mim em modificá-las. Não aprendi a ser feliz na Índia. Aprendi que sempre fui feliz, mas não sabia. E estou aprendendo a demonstrar mais minha felicidade. E isso traz efeitos colaterais tão bons...

Um comentário:

Muriel Pareto disse...

Oiiii que saudade de suas postagens você ficou um bom tempo sumida :)
Que bom que voltou.
Muito interessante mesmo essa forma de ver a felicidade, pretendo usa-la em minha vida.

Bjuxxx não suma again :D