segunda-feira, 30 de março de 2009

Desabafo...

Detesto gente esnobe e egoísta, principalmente quando não sabe o que fala. Pois bem, este post é mais um desabafo do que a descrição de algum acontecimento meu na Índia, mas minha língua já estava cocando e eu precisava extravasar... E já vou avisando que sou tosca, então qualquer comentário bruto será normal de minha parte. Então vamos lá...
Não sei por que brasileiro tem essa mania de ficar esnobando só porque subiu meio degrau na vida. Brasileiro quando está na Europa ou nos Estados Unidos trabalha de garçom, faxineiro, lava pratos e banheiros, e ainda sente orgulho de estar num pais estrangeiro ganhando pouco e trabalhando muito. Mas, brasileiro que vem para a Índia não vem para lavar pratos; de maneira geral, são pessoas com satisfatório poder aquisitivo, que podem usufruir de casas confortáveis, motoristas, hotéis 5 estrelas, etc, etc, etc. Repito, de maneira GERAL, não a totalidade...
Pois bem, de vez em quando ouço comentários negativos sobre a Índia de brasileiros que, creio eu, deveriam conhecer mais sobre o pais de origem antes de soltarem as tais “perolas”. Primeiro, porque o Brasil esta muito longe de ser um pais de primeiro mundo, perfeito e cheirando a Jasmim; segundo, porque nenhuma das criticas vem acompanhadas de soluções... Então por que criticar?
A Índia é um pais pobre? É sim senhor. Tem miséria, favela, mendigo na rua? Tem sim senhor. E o Brasil, é um pais pobre? Tem miséria, favela, mendigo na rua...? Quem nunca viu, por favor, levante a mão que eu saio daqui de Delhi e te levo ao Rio, São Paulo, Recife, Brasília (pode escolher a cidade) para ver uma. Com o agravante de que, no Brasil, você pode não voltar vivo da favela...
A Índia é um pais muito perigoso, sabe. Tem atentado terrorista de quando em quando - é um perigo! As vezes é um homem-bomba, as vezes é só a bomba mesmo que largaram num centro comercial, as vezes perto de um templo hindu... Mas posso sair com meus colares, brincos e anéis nas ruas que ninguém vai chegar com uma arma e apontar para a minha cabeça só para levar uma bijuteria. Posso ficar sentada na porta da minha casa que ninguém vai passar de carro, apontar outra arma na minha cabeça, e levar minha bolsa, assaltar minha casa, me seqüestrar... Posso andar de carro pelas ruas e parar no sinal de transito tranquilamente, porque o maximo que pode acontecer é atrair umas 10 criancinhas para a janela me pedindo dinheiro ou vendendo rosas. Ah! E se eu quiser dar um passeio, posso ficar muito decepcionada, pois não vou ter que me esconder por causa de tiroteios na rua, e muito provavelmente nem vou ficar ferida por causa de balas-perdidas...
Uma dos maiores inconvenientes que estrangeiros passam na Índia é com a sujeira nas ruas. Mas, quem já foi ao centro da cidade do Rio de Janeiro, já passou de carro pela Marginal Tiete, pelos canais de Santos e pelas ruas de Brasília, sabe que a paisagem não é muito diferente da daqui. Ah, é sim! No Brasil temos pichações...
Querem mais? Enquanto o PIB do Brasil foi de cerca de 3% anuais nos últimos três anos, a Índia vem mantendo uma media de 9% anuais, e mesmo com a crise financeira mundial, conseguiu atingir 7%. E olha que aqui são quase 1 bilhão de pessoas para administrar, dar comida, educação, trabalho... No Brasil, somos cerca de 200 milhões e andamos na corda-bamba para manter o mesmo ritmo de crescimento... quer dizer, um crescimento ainda inferior...
Brasil e Índia são, ambos, paises em desenvolvimento; nenhum é perfeito, cada um tem seus defeitos e isso nos confirma que nenhum é melhor ou pior que o outro. Recentemente, li o post do blog de Elaine Rodrigues, onde ela faz um comentário sobre o fato de que, na novela “Caminho das Índias”, Gloria Perez mostra apenas o lado bonito do pais. Recomendo a leitura (http://www.beijonope.blogspot.com/). Como ela cita, “devemos parar de ‘meter o bedelho’ na cultura alheia, a ponto de achar que somos melhores que eles”.
Para quem está na Índia, eu recomendo: curta o pais o maximo que puder, aprenda com a filosofia de vida deles, entenda a cultura deles, prove a culinária deles, visite os pontos turísticos que eles têm a oferecer e que são muitos, tenha amizade com eles e seja feliz! O resto é resto...

P.S.: As fotos mostradas neste post não são 'paisagens' da Índia, são do Brasil...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Amiguinha

Depois de quase um ano e meio no ICGEB sendo a única brasileira do Instituto, melhor, a única do continente americano, eis que chega ao final do mês de janeiro uma conterrânea. Para minha felicidade, ela veio da minha cidade – Brasília - e de um grupo de pesquisa que eu também já conhecia. A minha carência por ver uma brasileira todos os dias se juntou com o desespero dela em estar numa terra distante e logo ficamos amigas. Nunca imaginei que conversar todos os dias em nosso idioma nativo seria tão prazeroso...
Anne chegou à Índia sem falar muito inglês e nada de hindi. Trancou o curso de graduação em Brasília para vir fazer um treinamento de seis meses no ICGEB. Nunca tinha ido para qualquer outro pais antes de vir pra cá. Então, como brasileira solidária, ajudei-a a encontrar um lugar para morar (hoje somos vizinhas), a pegar oto, comprar comida, enfim, a se virar como todo “firangi”.
Mas não postei este texto para falar de Anne; estou escrevendo para comentar sobre os episódios ocorridos com Anne... (pedi permissão a ela antes de escrever, e ela consentiu... agora Anne, é tarde demais para pensar em dizer não...). Fazia muito tempo que não me divertia tanto com alguém. Anne é uma ótima pessoa, mas a coitada sai de uma mancada para entrar em outra. E eu não agüento, tenho que rir... Vou citar alguns destes episódios:
O nome ‘Anne’ é pronunciado no Brasil do jeito que se escreve, mas aqui as pessoas a chamam como o 'Anne' das americanas, daí soa igual a palavras ‘any’. Pois bem, estávamos um dia a conversar e eu disse a Anne que ela era ‘Incredible Anne’, fazendo um jogo de palavras com o slogan turístico daqui que é ‘Incredible Índia’. Não demorou muito e ela soltou a perola:
- O que é “Anne”?



Acho que ela estava tão acostumada a perguntar sobre palavras em inglês que não conhecia que, nesse momento, não reconheceu nem o próprio nome...
Sei como é difícil estar num pais onde o idioma local não é o nosso, e deve ser mais difícil ainda quando não estamos familiarizados com o novo idioma - nesse caso, o inglês. Anne já disse frases do tipo “I am hot” (eu sou gostosa) quando na verdade queria dizer “I am feeling hot” (eu estou com calor), e outras que não vou comentar, pois o sentido das frases é censurado para menores de 18. Ainda bem essas frases foram ditas para pessoas conhecidas...
Ah sim, fomos para Jaipur. Anne queria porque queria andar de elefante e camelo. Depois de muita, mas muita insistência, ela me convenceu a ir com ela. Montamos no elefante primeiro, demos a voltinha. Depois no camelo. Mais uma voltinha. Não satisfeita, viu uns porcos na rua e me perguntou se poderia montar neles também... (sem comentários)
Essa semana, Anne chegou à minha bancada com o rosto todo vermelho de vergonha dizendo que tinha feito uma besteira. Perguntei o que era, e ela me contou que estava procurando o técnico do laboratório para levar dois potes com água para autoclavar (não explicarei o que é autoclavar, pois não é relevante na estória). Como não o encontrou, foi direto a sala de autoclave para ver se ainda dava tempo de colocar suas amostras na maquina, pois o horário para tal feito já havia passado. Infelizmente, não encontrou ninguém na sala de autoclave. Ainda em sua busca, encontrou uma porta ao lado desta sala, onde a parte inferior era de vidro. Resolveu olhar por este vidro para ver o que havia dentro e descobriu que era o banheiro masculino. Só que no momento em que se abaixou para olhar, descobriu que havia uma pessoa utilizando o banheiro... e era o técnico do laboratório dela. Graças a Deus o cara já estava se vestindo, mas conseguiu pegar Anne olhando pelo vidro... Não preciso explicar mais o porquê de ela ter chegado a minha bancada toda vermelha... E os potes de água não foram autoclavados... O pior é que, no mesmo dia, ela esbarrou no mesmo cara, quase jogando os potes de água nele, e ainda usou (sem saber) os meios de cultura que ele tinha feito para uso próprio. Dias de Murphy...
E eu fico de espectadora, só observando esses momentos... E me divertindo! Mas quem não da suas mancadas, não é mesmo? Ate eu dou as minhas de vez em quando... Mas isso vai ficar para outro post...hehehe