quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Lavar roupa todo dia, que agonia...

Lavar roupas nunca foi meu forte e, quando vim para a India nao iria ser diferente. Mas aqui, maquina de lavar eh objeto raro e caro de consumo, e a maioria das pessoas manda suas roupas para lavar fora. Soh que o “lavar fora” nao eh uma loja “dry cleaner” (apesar de existir por aqui), mas sim, pessoas que pegam sua roupa, lavam em suas casas e depois te devolvem. Eh como nos velhos tempos em que se viam mulheres lavando roupas a beira dos rios, lagos, etc.
Logo que cheguei em Delhi, contratei uma empregada que, alem de limpar a casa, lavava minhas roupas... e na minha propria casa. Eu soh teria que comprar sabao em po e amaciante, que o resto do servico ela faria.
*Nota: aqui eh raro encontrar esses tipos de empregada. Normalmente, os servicos domesticos sao divididos em quatro categorias: as pessoas que limpam a casa, as que cozinham, as que lavam e passam roupas e as que limpas os banheiros. Devido ao sistema de castas, eh muito dificil encontrar uma empregada que se disponha a fazer duas funcoes, como a que eu encontrei. Achar uma que limpe a casa e o banheiro entao... impossivel...
A tecnica de lavar roupas aqui tambem eh muito diferente, principalmente se quem lava eh a empregada domestica: a minha, pelo menos, nao conhecia nem sabao em po, nem amaciante, lavava tudo apenas com sabao em pedra... imagine como as roupas nao ficavam depois de secarem... Com muito custo, consegui introduzir o sabao em po, que ela gostou e adotou como produto de lavagem. Mas o amaciante... nao houve argumentos que a convencesse a utiliza-lo e deixar minhas roupas mais fofinhas. Outra diferenca eh o modo como elas lavam: ao contrario de nos, meros mortais do mundo ocidental, que esfregamos as roupas com as maos para eliminar sujeira e mal-cheiro, aqui a roupa eh espancada ate a “morte”, ou melhor dizendo, ate o seu fim cruel. Sim, literalmente, as mulheres espancam a roupa. Elas batem a roupa incessantemente no chao ate que a coitada fique completamente inutilizada. Depois enxaguam e colocam no varal para secar. Confesso que perdi muitas das minhas roupas devido a esse macabro ritual que as lavadeiras utilizam. Na verdade, durante o ultimo ano, praticamente mudei meu guarda-roupa por completo, da meia ao agasalho. Nada escapa... nadinha... Sem contar que, de vez em quando, uma camiseta ou calca branca aparecia com uma bela mancha cor-de-rosa ou azul, justamente porque a empregada tambem nao sabia que pecas brancas nao devem ser colocadas junto com as coloridas...e o pior eh que nem adiantava discutir, ela lava assim desde que colocou a mao na massa pela primeira vez aos 15 anos de idade, como eh que eu tenho a audacia de dizer que nao eh assim que funciona...?!
Depois de tantos desalentos e varias roupas manchadas e perdidas, aprendi a licao: passei a mandar roupa para lavar fora (no “lavar fora” ja descrito anteriormente). Nao quero nem imaginar como eles lavam minhas roupas, mas pelo menos as recebo limpinhas (muito mais limpinhas do que antes), macias e cheirosinhas. E o melhor, passadas! As roupas brancas que antes ficavam amarelas depois de lavadas, agora voltam brancas... nao tao brancas como o branco original, mas dah para identificar que a cor eh branco... ah! e sem manchas cor-de-rosa. E as roupas coloridas ja voltam mais bonitinhas, principalmente as novas, que antes se acabavam na primeira lavada, agora podem ser utilizadas mais vezes antes de serem descartadas.
Acho que se eu fizesse um calculo do tanto que ja gastei comprando roupas novas para substituir as chacinadas pelas lavagens daria para comprar uma maquina de lavar novinha... mas isso eu tambem nao quero nem saber...pelo menos assim ando sempre na moda! :)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fotos - parte II

Como eu havia falado, ahi vao mais fotinhas, desta vez coloquei de pontos turistico daqui de Nova Deli.Dilli haat (feira de produtos artesanais)

Red Fort

Old Fort

Essa eh a que eu mais gosto: no Qtub Minar dando comida para os esquilinhos...


Qtub Minar

Qtub Minar


Lotus Temple


Railway Museum

Palacio do Presidente


India Gate


Holi
Conhecido como "Festa das cores", neste festival todo mundo fica sujinho (colorido, melhor dizendo). E essa foto nos tiramos no inicio da festa...

Lodhi Garden

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Fotos

Tenho recebido varios pedidos para colocar fotos de lugares da India no blog. Atendendo a demanda, vou deixar este Post somente com fotos dos lugares que ja fui por aqui. Como sao muitas fotos, vou dividir em duas partes.

Divirtam-se!




Taj Mahal - Agra



Golden Temple - Amritsar



Veja ao fundo os fieis tomando banho no lago do Golden Templo


Jallian Wala Bagh - Amritsar

Parque e memorial onde cerca de 2000 indianos foram mortos pelos britanicos durante a luta pela independencia



Primeira vez que fiz Mehendi (desenhos feitos nas maos com henna - tambem podem ser feitos nos pes)



Casamento indiano
Os noivos estao no centro da foto, com ornamentos da cabeca e rosto
(e eu no canto direito da foto...)



Templo de Hanuman - Dharamshala


Linda paisagem de Dharamshala
(cidade onde vive o Dalai Lama)



Dentro do Templo Budista - Dharamshala
Os pergaminhos na estante tem mais de mil anos!
O templo fica dentro do complexo onde vive o Dalai


Ainda no complexo...
Esses cilindros contem mantras escritos neles. Basta roda-los e sera como se voce estivesse pronunciando os mantras...


Montanhas do Himalaia - Manali
(Nem estava tao frio assim, rsrs...)

Hidimba Devi Temple - Manali
Construido em 1553

Gurudwara - Manikaran
Templo Sikr


Por-do-sol em Goa
Praia de Candolim


Praia de Candolim - Goa
Encontrarmos, no meio do caminho, uma bandeira do Brasil!





segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Meia Maratona

Meu desafio do mes foi: correr a Meia Maratona de Nova Deli sem precisar de ambulancia, assistencia da equipe de primeiros-socorros ou qualquer outra ajuda que nao fosse os meus proprios pes. E por incrivel que pareca eu... consegui!
Tudo comecou no mes de setembro, quando me inscrevi para um treinamento oferecido pela Reebok a preparar atletas de fim-de-semana (como eu) a correr os 21km do percurso. Seriam 30 sessoes de 1 hora e meia - das 6:00h as 7:30h - durante tres dias por semana. Em finais do verao, acordar as 5 da matina era ate confortavel. Eu aproveitava a brisa da manha, comprava o leite fresquinho na volta do treino e ainda chegava no horario certo para a labuta diaria no laboratorio. Mas sonho de pobre dura pouco... o inverno chegou devagarinho e a brisa agradavel da manha foi virando geada “gripal” da madrugada. A vontade de acordar as 5:00h tres vezes por semana foi se transformando em Missao Impossivel. Era preciso toda uma equipe de resgate para me fazer sair da cama (muito quentinha, por sinal...). Sem contar que, com o frio que estava fazendo, foi ficando cada vez mais dificil de correr sem produzir aquela respiracao de asmatico – “hiiiiii....hiiiii” - ate transpirar ficava dificil, meu corpo nao esquentava o suficiente para sair uma gotinha de suor sequer. Mas nao desisti; apesar de ter que me chicotear todas as manhas para ir ao treino, eu ia. Mas foi compensador, pois fui percebendo que minha resistencia aumentava e, aos poucos, conseguia correr mais e mais.
Enfim, chegou o grande dia! Eu, de roupinha nova (mas com o tenis velho, pois foi com muito custo que consegui amacia-lo para a corrida), fui toda feliz para o local de inicio da Maratona. Para variar, a corrida estava marcada para as 7:30 em pleno domingo, mas tudo bem... mais um sacrificio para a realizacao do meu tao sonhado desafio.
Ao chegar no ponto de largada, vi que todas as corridas sao iguais, independente do lugar: na frente, vao os atletas profissionais e atras, vai o resto. E de resto, pode-se considerar nos atletas de fim-de-semana, equipes de torcida e animacao de festas, bandinhas,pessoas fantasiadas, grupos com faixas de “Alo mamae”, protestos, propagandas e o que mais a imaginacao criar. Os “atletas” da corrida de Sao Silvestre viram profissionais quando comparados ao bandole que eh a Meia Maratona de Delhi.
Dado o grito de largada, ve-se aquela multidao animada, correndo com a garra de um vencedor, sorrindo para as cameras e acenando para os amigos e familiares que estao observando a corrida do lado da calcada. A cada 3 km havia um estande oferecendo agua aos atletas, bem como uma equipe dancando coreografias aerobicas com pompons, a fim de incentivar os corredores. O animo eh geral... ate o kilometro 5... quando os primeiros atletas profissionais comecam a apontar no caminho de volta – a apenas 30 minutos de corrida – ve-se uma mistura de desapontamento com espirito esportivo de incentivo. Ainda estamos a menos de um quarto do percurso e esses caras ja estao voltando! Alguns aplaudem, gritam “Parabens!”, mas a maioria ja pensa em desistir e comeca a caminhar...
Eu, no meu trote*, aproveito o embalo de desanimo geral dos “atletas” e tento ultrapassar o maior numero de pessoas possivel. Mas, a quantidade de obstaculos parece interminavel: quando penso que a muvuca ja passou, aparece uma equipe com cerca de 100 bombeiros que bloqueia qualquer espaco disponivel para ultrapassagem. Alem de ficar impossibilitada de continuar a corrida no meu trote, ainda tenho que ouvir a tipica cancao militar para corridas: “Um, dois, tres, quatro! Quatro, tres, dois, um!”. O jeito foi apelar e forcar uma ultrapassagem pela calcada...
10 km... eu estava bem perto do India Gate (o trajeto saia do Nehru Park em direcao ao India Gate, dava a volta ate o Parlamento e depois voltava ao Nehru Park). A vontade de parar e andar um pouco foi tomando conta do meu pensamento... e das minhas pernas tambem. Resolvi caminhar... Aaaahhhhh!!! Que sensacao horrorosa! Eu nao estava sentindo as minhas pernas!! O jeito foi continuar trotando novamente, as pernas iriam doer, mas era melhor do que tentar voltar a andar...
15 kilometros haviam se passado e eu ja sonhava com o ponto de chegada. Nessa altura do campeonato, 90% dos “atletas” ja estavam caminhando ou haviam desistido definitivamente da corrida. Resolvi fixar o slogan da Maratona** em minha mente e fazer com que meu psicologico pensasse que tudo era diversao. “Joy...joy...”, eu pensava. Onde esta essa satisfacao que nao aparece?!
18 kilometros... chegava a ser hilario, senao tragico, ver a equipe, que antes apresentava coreografias aerobicas com seus pompons para animar os corredores, mostrar-se desconsolada e sem energia para continuar animando os desanimados... deu ate vontade de chorar...
Ja havia corrido 18 km... eu tinha que correr mais 3! O mantra “joy...joy...” nao estava funcionando muito bem, entao resolvi partir para a agressao: desisti do trote e acelerei o maximo que pude. Nao sabia se ficaria paraplegica no final da corrida, se um pedaco das pernas ficaria no meio do percurso, mas com todas as forcas poderosas desse universo, eu queria ver o ponto de chegada!!! 19km.... 20km... 20.5km... cade o ponto de chegada?! Sera que eu virei para o lado errado na rotatoria e estou correndo o trajeto contrario?! Nao, nao, eu estava perto. E duas horas e meia depois do inicio da corrida, pude ouvir os gritos da multidao que esperava os restos mortais do povao que se acotovelava para tentar chegar na reta final.
Foi um momento glorioso: me vi em camera lenta cruzando a linha de chegada. Flores sendo jogadas no chao para mim, a torcida dizendo “Eh campea!”, a equipe tecnica me pegando nos bracos e trazendo agua, toalhinha, relaxante muscular... que me dera... Quando atravessei a linha de chegada, ainda tive que percorrer mais uns 200 metros, ou seria pisoteada pela turba desesperada que vinha atras de mim. Terminar o percurso nao era soh uma meta minha, mas de pelos 20.000 pessoas que tambem participaram da corrida. Mas mesmo assim foi glorioso. Melhor do que bater um recorde mundial, foi bater meu recorde pessoal.
Maratona terminada, fui ao espaco de recepcao dos atletas. La recebi medalhinha, certificado, lanche e havia ate dois carinhas segurando placas com os dizeres “Free hugs” para os atletas desconsolados que nao tinham ninguem para abracar no final da corrida...
Cheguei em casa mais do que exausta, as pernas meio atrofiadas, roupa suja e suada, mas com o ego e a satisfacao no alto! Valeu, Delhi!

*Trote = corrida em velocidade minima, quase andando, mas nao completamente andando...
**Slogan da Maratona:”Remember the joy of running” (lembre-se da satisfacao em correr). A Airtel, companhia patrocinadora da Maratona, apresentava uma propaganda em que chamava os atletas a relembrar os tempos de crianca, quando se corria sem nenhuma razao, e convidar todos a correr mais uma vez.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Halloween

O que eh Globalizacao? Eh um egipcio e uma brasileira, empregados de uma Instituicao Italiana localizada na India, conversando sobre o significado do Halloween, festival de origem irlandesa, que hoje eh principalmente celebrado nos Estados Unidos (heinn??!!)... Pois eh, por incrivel que pareca, fui entender as origens do Halloween atraves de um colega de bancada que, por sinal, eh egipcio e nem celebra esse dia em seu pais.
Como achei muito interessante o assunto, resolvi postar aqui. Resumindo:
O Halloween eh, na verdade, uma mistura de rituais e festividades que, atualmente, tomou uma forma bem diferente se suas origens. Varias teorias explicam a origem do Halloween, mas a mais seguida eh a de que veio do festival de Samhain, celebrado pelos celtas, que habitavam a regiao da Gra-Bretanha ha mais de 1200 anos. Acredita-se que o Samhain era celebrado no inicio do mes de novembro, a meio caminho entre o equinócio de verão e o solstício de inverno, e dava inicio ao ano novo Celta. Esse festival durava uma semana, sendo a “Festa dos Mortos” a mais importante. Nesse dia, os espiritos dos mortos voltavam para visitar a casa de seus familiares, dando boas noticias sobre o outro lado da vida, uma vez que, para eles, a vida apos a morte era cheia de felicidade. No entanto, com a invasao dos cristaos, o druidismo (como era chamada a religiao dos Celtas) foi sendo extinta e o festival foi tomando outras formas e diferentes significados ao longo do tempo.
Todavia, dentro da religiao crista, surgiu a festa de “Todos os Santos”, provindo da festa de “Todos os Martires”, termo criado durante o seculo IV e mudado para o dia 1 de novembro pelo Papa Gregorio III no seculo VIII (antes era celebrado no dia 13 de maio). Essa festa tinha como objetivo honrar “Todos os Santos” e era celebrada com vigilias e preces. A palavra “Halloween” pode ter vindo, entao, do termo “All Hallow’s Eve” (Vespera de toda a consagracao, santificacao).
Assim, a historia conta que os dias de comemoracao da Festa de Todos os Santos teriam sido transferidos para o final do mes de outubro e inicio do mes de novembro com o fim de acabar com os rituais pagaos do Samhain e introduzir um festival cristao na mesma data. Alem disso, durante a mesma epoca, o druidismo era considerado heresia e, seus seguidores, bruxos. Por isso, nessa epoca, quem seguisse as tradicoes pagas era queimado na fogueira ou julgado pelo Tribunal do Santo Oficio (se tivesse sorte). Dai a alusao as bruxas e aos mortos no Halloween que vemos hoje.


Depois da fantastica aula sobre o Halloween dada pelo meu colega, fiquei imaginando o quanto sabemos pouco sobre a origem dos dias festivos que celebramos ao longo do ano. Aqui na India, todos sabem pelo menos o significado das datas mais importantes, bem como os rituais e as historias por detras de suas festividades. Portanto, resolvi tentar descobrir mais sobre os dias festivos do Brasil, pois atualmente, estou sabendo muito mais sobre a cultura estrangeira do que sobre a do meu proprio pais... e isso me faz sentir envergonhada por nao ser capaz de dar uma mesma explicacao sobre qualquer feriado nacional...